A abertura das igrejas

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Sorocaba entrou desde a última segunda-feira em um processo de flexibilização da quarentena imposta a todos os seus cidadãos desde meados de março, acompanhando decisão do governo estadual de promover o distanciamento social para retardar a disseminação do novo coronavírus no Estado de São Paulo, epicentro da pandemia no País.

No final da semana passada o governo estadual estabeleceu algumas regras para a abertura de estabelecimentos comerciais e de serviços e para isso dividiu o Estado em várias regiões. A Capital e algumas cidades da Região Metropolitana, devido a uma série de fatores, inclusive a concentração de casos positivos para o novo coronavírus, permanecem em quarentena. Em outras regiões foi autorizada uma flexibilização branda, como é o caso de Sorocaba, que foi colocada em uma etapa intermediária.

O comércio, tanto o de rua como dos shoppings, foi liberado em Sorocaba com uma série de restrições. Terão que trabalhar em horário reduzido e com um número limitado de consumidores dentro dos estabelecimentos, justamente para evitar concentração em ambientes fechados. Como mostrou reportagem do Cruzeiro do Sul desta terça-feira, foi grande o número de pessoas que se dirigiram ao centro da cidade para fazer compras.

Diante de tanta gente circulando entre os estabelecimentos comerciais, é perceptível que ficou difícil, mesmo com a boa vontade dos lojistas, estabelecer limites determinados no decreto. Os clientes nem sempre observam o distanciamento correto nas filas e é praticamente impossível controlar o número de pessoas dentro das lojas em determinados momentos.

Todos os cuidados previstos nos decretos tanto do governo do Estado como da Prefeitura têm sua razão de ser. A epidemia ainda está em curva ascendente, tanto no Estado de São Paulo como em Sorocaba. Na última segunda-feira, quando ocorreu a abertura parcial dos estabelecimentos, a cidade contava com 995 casos confirmados de Covid-19, com 46 mortos. E chegou a 910 o número de pessoas recuperadas. Ou seja, o número de casos ainda está crescendo, embora, felizmente, a cidade ainda conte com vagas hospitalares disponíveis.

Em todo o processo de flexibilização das atividades no Estado, a volta às aulas é a que está mais distante. As autoridades sanitárias entendem que manter alunos de qualquer nível de ensino fechados em um mesmo ambiente durante um longo período aumenta muito o risco de contaminação. Em alguns países, depois de um longo período de ensino a distância, começaram as aulas presenciais em algumas escolas, mas com um número muito limitado de alunos por sala de aula.

Em Sorocaba, a prefeita Jaqueline Coutinho assinou decreto permitindo a abertura de templos religiosos a partir do último dia 1º de junho. De acordo com o documento legal, as igrejas, templos e afins podem funcionar com 30% de sua capacidade de público e será preciso manter os fiéis distantes dois metros uns dos outros.

Também é exigido o uso de máscaras de proteção dos frequentadores e dos líderes religiosos que devem ter acesso a produtos para higienização como água, sabão ou álcool em gel. Também é sugerida a triagem dos participantes, se possível aferindo a temperatura corporal dos participantes da cerimônia. Nem todas as igrejas manifestaram interesse de abrir imediatamente suas portas. E há aquelas que já distribuíram uma espécie de protocolo para ser obedecido, como é o caso da Igreja Católica, com recomendações específicas de higienização das igrejas e objetos utilizados nas cerimônias.

Foi certamente pensando no potencial perigo de contaminação nesses ambientes religiosos, muito semelhantes aos das salas de aula, que o Ministério Público solicitou à Prefeitura de Sorocaba informações sobre a abertura gradual das igrejas. A solicitação inclui informações sobre o número de casos na cidade e como será feita a fiscalização das atividades.

Em caso de descumprimento das regras sanitárias durante as atividades religiosas, a Prefeitura terá que comunicar a Promotoria de Justiça. Um relatório sobre a fiscalização das igrejas que optarem por abrir suas portas deverá ser enviado num prazo de sete dias, para que o MP acompanhe se as regras estão sendo observadas.

O maior problema, nesta fase de flexibilização da quarentena, é a questão de fiscalização. Sabe-se que o município tem número limitado de profissionais que fiscalizam as posturas municipais. A fiscalização do comércio e igrejas exigirá muitos funcionários, mesmo com o auxílio da Guarda Civil Municipal.

O que está acontecendo no comércio de rua, onde é difícil manter o controle das regras, é um prenúncio do que poderá acontecer em templos religiosos. É um problema complexo que precisa de atenção e compreensão das igrejas. O que os líderes religiosos certamente mais querem é preservar a saúde dos fiéis.