A força do agro paulista

Por Cruzeiro do Sul

 

O desempenho do agronegócio paulista nos 11 primeiros meses de 2025 revela, ao mesmo tempo, a força estrutural do setor e a fragilidade do ambiente internacional. O superávit de US$ 21,07 bilhões, resultado de exportações de US$ 26,35 bilhões contra importações de apenas US$ 5,28 bilhões, reafirma a relevância estratégica do campo para a economia do Estado de São Paulo e, por extensão, para o País. Não há como ignorar: 40,6% de tudo o que São Paulo exportou no período veio do agronegócio. É um dado que fala por si. É extremamente relevante e um importante indicativo para os anos que virão.

O governo paulista, por meio da Secretaria de Agricultura, tem celebrado esses números como evidência de um suposto caminho bem traçado. De fato, o setor se mantém competitivo, amparado por produtores tecnificados e cadeias industriais robustas. Mas é preciso cautela com interpretações autocomplacentes. O bom desempenho não decorre apenas de políticas públicas, mas, sobretudo, da resiliência histórica das cadeias do agro paulista, habituadas a operar sob volatilidade climática, cambial e/ou geopolítica.

O retrato das exportações mostra, mais uma vez, a concentração que caracteriza o agronegócio brasileiro, de forma geral. O complexo sucroalcooleiro, sozinho, responde por 31,3% da pauta paulista, com US$ 8,2 bilhões. Carnes, produtos florestais, sucos e soja completam um bloco que representa 75,5% de tudo o que o Estado vende ao exterior. Trata-se de uma fortaleza, mas também de um ponto cego: a dependência de poucas cadeias, e de poucos destinos, mantém a vulnerabilidade do setor elevada.

Este ano, a oscilação nos principais grupos deixa claro o risco. Houve saltos expressivos em café (+39,2%) e carnes (+24,1%), mas quedas igualmente contundentes em suco (-4,9%), produtos florestais (-4,8%) e, sobretudo, no sucroalcooleiro (-29,6%), ainda o carro-chefe do agro paulista. As razões estão no cruzamento entre preços internacionais e volumes embarcados, variáveis que o Estado, por mais eficiente que seja, não controla.

A dependência da China, destino de quase um quarto das exportações paulistas, também segue como componente estrutural do setor. União Europeia e Estados Unidos vêm na sequência, mas o cenário no mercado norte-americano deixou um alerta claro. O tarifaço imposto por Washington a partir de agosto desencadeou uma sucessão de quedas nas vendas: -14,6% em agosto, -32,7% em setembro, -32,8% em outubro e -54,9% em novembro. Nem mesmo o anúncio de Donald Trump, em 20 de novembro, retirando tarifas sobre parte dos produtos brasileiros — como café, frutas e carne bovina — dissipa completamente a insegurança. O fluxo deve melhorar, mas a normalização levará tempo.

Ainda assim, São Paulo mantém seu protagonismo no cenário nacional, respondendo por 17% das exportações agropecuárias do País e figurando como segundo maior exportador, atrás apenas de Mato Grosso. É um desempenho notável, mas que exige leitura crítica: para sustentar esse protagonismo, o Estado precisará avançar não apenas em produtividade, mas em diversificação, inovação e inserção internacional mais sofisticada.

O agronegócio paulista segue forte, mas o mundo à sua volta não oferece garantias. E, se há algo que o setor comprova ano após ano, é que depender de ventos favoráveis é sempre um risco demasiado alto para quem quer planejar o futuro.

Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, o desempenho do agronegócio mostra que São Paulo está na direção certa: investir em ciência, infraestrutura, desburocratização e competitividade. Assim, São Paulo alcança um superávit de US$ 21 bilhões porque tem produtores qualificados e políticas públicas que dão segurança e liberdade para produzir.

Para a Diretoria de Pesquisa dos Agronegócios (APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a projeção para 2026 depende muito do comportamento das principais cadeias produtivas. É algo que precisa ser analisado setor a setor, com base nas previsões específicas de cada safra. Mas, apesar de todas as dificuldades inerentes ao setor, associada as eventuais interferências próprias de um ano eleitoral, o otimismo prevalece no agro paulista.