A miragem do crescimento
Há algo profundamente dissonante entre o discurso oficial sobre a economia brasileira e a realidade vivida por famílias e empresas. Enquanto Brasília celebra indicadores pontuais, o País permanece estagnado em problemas estruturais que não se resolvem por falta de vontade política ou incompetência. Nos últimos três anos e, especialmente em 2025, o Brasil se tornou especialista em produzir falsa sensação de prosperidade. É o auge do “crescimento miragem”: uma narrativa cuidadosamente construída que disfarça a incapacidade crônica do governo de conduzir o País para um ciclo real de desenvolvimento.
Boa parte dessa ilusão tem origem na política econômica conduzida com objetivos que parecem menos republicanos e mais eleitorais. O governo administra o País com os olhos voltados para 2026, convertendo decisões de impacto nacional em meras fichas de um tabuleiro político. Multiplicam-se medidas populistas, gastos extraordinários e anúncios ruidosos que garantem mídia, mas não resolvem nada. Trata-se de um uso reiterado da máquina pública para ampliar simpatias em ano pré-eleitoral, mesmo que isso comprometa a saúde fiscal e desorganize setores inteiros. As decisões são orientadas por cálculos partidários, não por métricas técnicas ou metas de Estado.
A política fiscal virou instrumento de marketing. Benefícios temporários, subsídios improvisados e renúncias mal calibradas ajudam a inflar artificialmente o consumo no curto prazo e geram números maquiados, que o governo usa como troféus. No entanto, são soluções que se desfazem no instante em que o impulso fiscal cessa. O País gasta muito, gasta mal e gasta com objetivos frequentemente alinhados à conveniência eleitoral. A consequência é clara: o Brasil compromete o futuro para prolongar uma sensação ilusória de que “tudo está melhorando”.
Mesmo o mercado de trabalho, que o governo exibe como vitrine, revela a contradição entre quantidade e qualidade. O número de pessoas ocupadas cresce, mas em posições de baixa remuneração, baixa qualificação e baixa perspectiva. Emprego existe, mas não transforma a vida do trabalhador para melhor. A vida real desmente o otimismo oficial: renda corroída, custo de vida em alta — graças aos juros e a inflação — e serviços públicos deteriorados. O discurso que tenta pintar um cenário de recuperação plena, beira a desconexão com o cotidiano das famílias.
A falta de estratégia estrutural afeta toda a economia. A indústria continua defasada, perdendo competitividade ano após ano. A inovação não avança porque não há ambiente regulatório estável, nem política de Estado que sobreviva à próxima disputa política. Investidores observam um país que muda regras ao sabor de humores e conveniências. O improviso virou método de governo; a instabilidade, marca registrada. O Brasil não inspira confiança porque não demonstra compromisso com reformas duradouras, apenas com medidas de curto prazo para garantir palanque.
O mais grave é que, enquanto muitos países traçam planos robustos de transformação tecnológica, sustentabilidade energética e requalificação de mão de obra, o governo brasileiro ainda opera na lógica de espetáculo político. As prioridades não nascem de diagnósticos, mas de pesquisas eleitorais. Falta ambição, falta visão e falta liderança comprometida com o país real e não com o calendário de 2026. A máquina pública virou instrumento de barganha política, e não de planejamento.
O crescimento econômico de 2025 pode até oferecer números positivos para discursos oficiais, mas não engana o País sobre suas fragilidades. O governo aposta em narrativas, não em reformas; em distribuição de benefícios, não em produtividade; em soluções pontuais para fotografias momentâneas, não em políticas estruturais para transformar o futuro.
O Brasil não pode continuar refém de estratégias eleitorais disfarçadas de políticas públicas. É preciso romper o ciclo do populismo fiscal, enfrentar as amarras que travam a produtividade e construir estabilidade institucional. Sem isso, continuaremos alimentando a miragem e desperdiçando precioso tempo para transformar o País ao invés de apenas inflar expectativas pré-eleitorais.