O café da manhã e o bolso do brasileiro

Por Cruzeiro do Sul

 

Tomar café da manhã, um dos rituais mais simples, prazerosos e tradicionais do dia a dia brasileiro, está se tornando uma tarefa indigesta. Seja na padaria ou na própria cozinha de casa, o primeiro desjejum do dia tem custado cada vez mais caro. O que antes era sinônimo de aconchego e rotina — com pão quentinho, café coado na hora, margarina, manteiga, requeijão ou queijo — hoje é motivo de preocupação no orçamento das famílias.

O café, símbolo nacional, acumula aumentos expressivos nos últimos meses, impulsionado por fatores como o clima irregular nas regiões produtoras, a alta dos custos agrícolas e a valorização das exportações. O pão, por sua vez, reflete a volatilidade do trigo, que depende fortemente do mercado internacional e do câmbio. Soma-se a isso o encarecimento de derivados lácteos e embutidos, e o que se tem é uma mesa cada vez mais vazia, ou, no mínimo, mais cara.

Nas padarias, o tradicional “pingado com pão na chapa” pode custar R$ 20 em muitas cidades, tornando-se um pequeno luxo cotidiano. Dentro de casa, o impacto é igualmente perceptível: preparar o próprio café deixou de ser uma economia garantida. O aumento generalizado dos alimentos faz com que até os hábitos mais modestos pesem no bolso do consumidor.

Pesquisa do Procon-SP realizada em Sorocaba apontou variações expressivas nos preços praticados por padarias da cidade: as diferenças chegam a 118% entre itens iguais. O levantamento, feito em seis estabelecimentos, revelou produtos como o pão francês na chapa com manteiga e requeijão, que podem custar de R$ 7 a R$ 15,30.

Entre as principais variações de preços encontradas está exatamente o pão francês, com diferença de 30%. O maior preço é

R$ 23,40, o quilo, e o menor R$ 18. A diferença em valor absoluto é de R$ 5,40, e o preço médio é R$ 22,12.

O café expresso pequeno está com diferença de 78%, com o maior preço a R$ 8,90 e o menor a R$ 5, sendo a diferença em valor absoluto de R$ 3,90 e preço médio de R$ 7,58.

O levantamento do Procon-SP, feito para marcar o Dia Mundial do Pão, lembrado em 16 de outubro, tem como objetivo oferecer referências de preços e orientar o consumidor sobre a importância de observar peso, qualidade e custo-benefício ao comprar alimentos e bebidas em padarias.

Essa escalada de preços é reflexo de um país que ainda convive com desequilíbrios estruturais — dependência de importações, gargalos logísticos e custos elevados de produção e de impostos. A inflação de alimentos, embora pontualmente arrefecida em índices gerais, continua corroendo o poder de compra, especialmente entre as famílias de renda média e baixa.

O café da manhã, mais do que uma refeição, é um termômetro da vida real do brasileiro. Quando ele encarece, não é apenas o paladar que sofre, mas também o ânimo de quem começa o dia praticamente contando moedas. Reverter esse quadro exige políticas econômicas consistentes, incentivo à produção interna e combate aos fatores que encarecem o básico. Afinal, em um país que se orgulha de seu café e de sua padaria, não deveria ser tão difícil começar o dia com dignidade.