Hora de virar o jogo

Por Cruzeiro do Sul

O torcedor são-bentista anda inquieto. E não é para menos. Depois de uma temporada decepcionante no Campeonato Paulista da Série A2, em que o time de Sorocaba escapou do rebaixamento por pouco, e diante de uma campanha morna na atual Copa Paulista, crescem as vozes nas arquibancadas e redes sociais pedindo a transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

O clamor é legítimo. Com dificuldades financeiras cada vez mais evidentes, sem perspectiva clara de investimento para os campeonatos de 2026 e sem protagonismo nas competições que disputa, o São Bento parece travado no tempo. Enquanto isso, o futebol brasileiro se transforma: dezenas de clubes adotaram o modelo de SAF, na tentativa de encontrar estabilidade administrativa, atrair capital privado e voltar a competir em alto nível.

É nesse contexto que a diretoria executiva do Bentão confirma o recebimento de uma nova proposta para a constituição de uma SAF. O documento, ainda genérico, está nas mãos do Conselho Deliberativo. Apesar da escassez de detalhes — não há nomes, valores ou modelo de gestão definidos —, trata-se de um novo capítulo em um processo que já teve duas tentativas frustradas: uma com o empresário Rubens Takano, que ofereceu R$ 40 milhões, e outra com o Flashforward Group, do ex-jogador Zé Roberto, que chegou a propor R$ 130 milhões antes de recuar.

A falta de transparência e o vai-e-volta das negociações anteriores justificam a cautela da diretoria e do Conselho. No entanto, é importante frisar que a transformação em SAF, se bem conduzida, pode ser sim a saída para salvar o São Bento da irrelevância esportiva e do colapso financeiro.

Há exemplos no futebol brasileiro que merecem destaque. O Botafogo, sob o comando de John Textor, recuperou sua presença entre os grandes do País e passou a disputar títulos. O Cruzeiro, comprado por Ronaldo que, em seguida, o vendeu a um empresário do ramo comercial de Belo Horizonte, conseguiu se reerguer da Série B, organizou suas contas e reconquistou a credibilidade. O Vasco, embora enfrente turbulências, também voltou a atrair investimentos e profissionais qualificados, depois de anos à deriva.

Por outro lado, há lições que devem ser aprendidas com experiências malsucedidas. A própria gestão de Textor no Botafogo já levanta dúvidas e críticas — inclusive com o clube entrando em litígios judiciais com a SAF. O Figueirense, que tentou uma parceria semelhante antes da legislação da SAF, acabou afundado em dívidas e rebaixamentos. Ou seja, virar SAF não é solução mágica. É um ponto de partida, não a linha de chegada.

O sucesso de uma SAF depende de pilares muito claros: planejamento estratégico, governança profissional, compromisso com a comunidade e diálogo com os torcedores. Sem isso, o modelo pode apenas transferir o problema para outra instância, em vez de resolvê-lo.

O São Bento, com 110 anos de história, tradição no interior paulista e uma torcida fiel — ainda que machucada — não pode se entregar ao desespero nem ao amadorismo. Mas também não pode mais viver da esperança de que “um dia vai melhorar”. As arquibancadas já não cantam com o mesmo entusiasmo. O time não empolga. O torcedor, cansado de promessas vazias e de campanhas sem alma, quer ver o clube de volta ao protagonismo. Quer investimento, quer gestão profissional, quer um time forte.

É fundamental, portanto, que a diretoria e o Conselho Deliberativo encarem esse momento com responsabilidade. É preciso exigir da empresa interessada uma proposta sólida, que inclua garantias reais de investimento, um plano de curto, médio e longo prazo, e respeito às raízes do São Bento. Não se trata apenas de vender ações. Trata-se de escrever um novo futuro para o clube.

O torcedor são-bentista já demonstrou sua paixão. Já foi à luta em momentos difíceis, mas agora cobra atitude — e tem razão. Não há mais tempo para tentativas improvisadas ou para negociações nebulosas. O São Bento precisa de um novo capítulo. Que ele seja escrito com competência, transparência e esperança.

Se a SAF for o caminho para voltar a sonhar, que venha. Mas que venha com verdade.