Editorial
Rumo incerto
As eleições europeias de junho podem propiciar um ‘brusco giro à direita‘
Os países considerados democráticos, aqueles onde vigoram eleições livres e a liberdade de expressão é plena, primam por uma alternância de poder entre as várias correntes de pensamento. Hora a direita assume, hora vence a esquerda.
O importante, em todo esse movimento, é que se pense mais no país do que no revanchismo contra aqueles que estavam no poder.
Só assim as nações avançam e crescem em direção ao progresso, o equilíbrio econômico e a qualidade de vida de suas populações.
Qualquer outro tipo de movimento, com perseguições políticas e cerceamento de correntes de pensamento, beira a ditadura e o totalitarismo. A democracia pressupõe um embate eleitoral limpo e justo.
Na Europa isso ocorre na maioria dos países. As alianças entre vários partidos surgem para garantir a governabilidade e implementar as ideias prometidas em campanha.
Quando algo sai do roteiro, a punição vem nas eleições seguintes. Muitas delas convocadas antecipadamente por causa da dissolução de parlamentos que perdem a condição política de governar para a maioria.
É isso que está acontecendo neste momento no Velho Mundo. As eleições europeias de junho podem propiciar um ‘brusco giro à direita‘.
Partidos de ideologia mais conservadora, segundo o mais atual levantamento da situação política no continente, ficariam com quase a metade dos assentos do Parlamento Europeu.
O relatório, divulgado na quarta-feira, 24, foi realizado pelo centro de reflexão política do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
O estudo confirma o que já era projetado por várias pesquisas de opinião que projetam um fortalecimento da extrema direita nas eleições da União Europeia neste ano.
De acordo com essa tendência, os partidos ou candidatos eurocéticos, aqueles que questionam os rumos da EU, podem ser os mais votados ‘em pelo menos nove Estados-membros‘.
Destaque para a França, com a liderança de Marine Le Pen, e a Itália, com o partido da primeira-ministra Giorgia Meloni.
As correntes de direita, principalmente as mais populistas, também conseguiriam uma boa quantidade de votos e cadeiras.
As projeções indicam que eles conseguiriam atingir os segundos ou terceiros lugares em outros nove países, como Alemanha, Espanha e Suécia.
Boa parte desse movimento de repúdio às ideias de esquerda, vem do campo e das pequenas comunidades.
Essa população tem se sentido pouco representada no alto escalão e não concorda com várias medidas restritivas que estão sendo empurradas goela abaixo por grupos desconectados com a realidade.
Os protestos dos produtores rurais cresceram tanto que preocuparam os governantes.
Como mostrou a edição de quarta-feira, 22, do jornal Cruzeiro do Sul, uma reunião de emergência com os ministros da Agricultura foi convocada, em Bruxelas, para buscar soluções para a crise e diminuir a tensão no setor agrícola.
A regulamentação ambiental, o aumento dos preços dos combustíveis e a concorrência das importações da Ucrânia, considerada desleal, são os temas que mais incomodam o setor do agronegócio.
Para o eurodeputado português Pedro Marques, vice-presidente do bloco social-democrata, os agricultores são um ‘eleitorado muito importante‘ e que pode ser decisivo nas eleições marcadas para junho.
O ministro espanhol da Agricultura, Luis Planas, sintetizou, de forma nua e crua, o problema enfrentado pela esquerda europeia nos últimos tempos.
Ele alertou que ‘a extrema direita busca utilizar os agricultores e pecuaristas como instrumento político. Acho isso lamentável. Precisam ser defendidos, ouvidos, mas não manipulados politicamente‘.
Só que para contentar os agricultores vai ser necessário abrir mão de vários compromissos assumidos anteriormente. O principal deles está ligado ao clima.
O ritmo da redução das emissões de gases pode ter que ser reduzido. Só que aí o eleitorado ligado ao meio-ambiente é que vai se revoltar.
Os próximos cinco meses serão vitais para deixar esse cenário mais claro. O avanço da direita e dos conservadores parece ser questão de tempo. Só resta saber o resultado dessa mudança de rumo na Europa.