Editorial
Greve fora de hora
A privatização da Sabesp não era segredo para ninguém. Foi uma das principais bandeiras de Tarcísio durante a campanha
A cidade São Paulo enfrentou o caos nesta terça-feira, 3 de outubro. Por motivos meramente políticos, os sindicatos que representam os trabalhadores do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) decidiram cruzar os braços para lutar contra a futura privatização da Sabesp, que nada tem a ver com o escopo do trabalho deles.
O objetivo dos sindicalistas, a maioria ligados a partidos de esquerda, é tentar atingir a imagem do governador Tarcísio de Freitas, cada vez melhor avaliado pela população paulista.
A privatização da Sabesp não era segredo para ninguém. Foi uma das principais bandeiras de Tarcísio durante a campanha.
A população apoiou a ideia tanto que o atual governador derrotou o Partido dos Trabalhadores, no segundo turno das eleições do ano passado, por larga margem de votos.
Querer impedir, no tapetão e nas ameaças, que um projeto prometido durante a campanha eleitoral seja realizado é, no mínimo, antidemocrático.
No frigir dos ovos, quem mais sofre com esse movimento grevista é a população. São milhões de trabalhadores afetados, a maioria da classe mais pobre, que precisa mais do transporte público para deslocar-se por São Paulo.
Muitos, nesta terça-feira, perderam seu dia de trabalho ou precisaram gastar mais tempo e dinheiro para exercer suas profissões.
Os congestionamentos bateram recorde, em alguns momentos, conforme dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), atingiram a marca dos 600km.
Uma lentidão que irrita os motoristas, custa milhões de reais para a população e ainda despeja, na atmosfera, uma quantidade muito maior de gases poluidores.
Tudo isso provocado por lideranças irresponsáveis da esquerda, buscando projeção e interesses próprios.
A mesma esquerda que tanto fala em preservação da natureza e mudanças climáticas acaba provocando um ataque ainda maior à qualidade do ar respirado em São Paulo.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não se curvou à chantagem dos sindicalistas e classificou a greve deflagrada por funcionários do Metrô e da CPTM como 'abusiva, ilegal e política'.
Tarcísio garantiu que o governo paulista vai continuar estudando não só os projetos de privatização da Sabesp, mas também de linhas do próprio Metrô e da CPTM.
O governador disse ainda que 'infelizmente aquilo que a gente esperava tá se concretizando. Temos aí uma greve de Metrô, CPTM, uma greve ilegal, uma greve abusiva, uma greve claramente política, uma greve que tem como objetivo a defesa de um interesse muito corporativo. E quem tá entrando em greve tá se esquecendo do mais importante que é o cidadão'.
O cidadão, que paga as contas dos serviços públicos, mais uma vez, virou massa de manobra nas mãos daqueles que querem impor suas vontades próprias e preservar direitos que grande parte da população não tem.
O egoísmo das lideranças sindicais fica latente cada vez que medidas absurdas são utilizadas para influenciar o povo contra um adversário político.
O governador criticou as direções dos sindicatos. Ele afirmou que elas são compostas por partidos que 'não dialogam' com a população, tanto que não cumpriram o acordo judicial de manutenção básica dos serviços.
A Justiça havia determinado a manutenção de 85% do contingente da Sabesp, sob pena de multas diárias de até R$ 500 mil aos sindicatos.
No caso do transporte sobre trilhos, a determinação era de que fosse mantido o funcionamento de 100% nos horários de pico e 80% nos demais períodos.
Nada disso foi feito, resta saber, agora, como a Justiça vai se comportar diante de tal afronta.
A intenção do governo paulista é que o projeto de lei, que permite a privatização da Sabesp, seja enviado à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ainda este mês e que a desestatização da empresa já possa ocorrer no primeiro semestre de 2024.
O governador afirmou que esse processo, que está em curso e que resultará na privatização da Sabesp, vai ser o maior do país nos próximos anos.
A liderança de São Paulo, exercida por um governador de oposição ao presidente Lula, incomoda os partidos de esquerda e aqueles que orbitam em volta deles.
Greves políticas como a que estamos assistindo agora, na capital, devem se tornar cada vez mais frequentes.
Infelizmente, essas alas mais extremistas não conseguem vencer no diálogo e apostam no caos e na truculência para tentar fazer valer suas vontades.
Nem que para isso o cidadão, que paga impostos, precise sofrer e ficar a pé.