O IPVA e a reforma tributária

O número de devedores responde por quase 9% dos 17,8 milhões de veículos sujeitos ao recolhimento do IPVA no Estado

Por Cruzeiro do Sul

Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

Cerca de 30 mil proprietários de veículos registrados em Sorocaba estão atrasados com o pagamento do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) de 2022. Juntos eles devem cerca de R $35 milhões. O levantamento foi publicado em reportagem da edição de domingo (4) do jornal Cruzeiro do Sul.

O número de inadimplentes representa cerca de 10% da frota de veículos de Sorocaba. Os devedores já foram notificados pela Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo no dia 25 de novembro. O débito deve ser regularizado em até 30 dias, contados a partir da data do informe, de acordo com a Secretaria da Fazenda. Agora, o pagamento pode ser feito apenas à vista, com a incidência de multa e juros de mora. É possível efetuar a quitação pela internet ou nas agências da rede bancária credenciada, usando o serviço de autoatendimento. O não pagamento ou apresentação de defesa no mesmo prazo acarretará na inscrição em Dívida Ativa do Estado de São Paulo. Além disso, a falta de pagamento pode dificultar o próximo licenciamento dos veículos.

Em todo o Estado de São Paulo, foram notificados 1.499.754 proprietários, com dívida total de aproximadamente R$ 1,76 bilhão. O número de devedores responde por quase 9% dos 17,8 milhões de veículos sujeitos ao recolhimento do IPVA no Estado.

Para muitos juristas e economistas, o IPVA é um desses impostos considerados ruins e deve ser revisto numa futura reforma tributária. Alguns analistas mais radicais acreditam que o IPVA é um dos piores impostos do Brasil, país famoso mundialmente por ter um dos mais complexos e desiguais sistemas tributários do mundo. Ou seja, é um imposto ruim em meio a um sistema tributário péssimo.

O IPVA surgiu como substituto da antiga TRU, a Taxa Rodoviária Única, que tinha sido criada em 1969 pelo Governo Federal e sua função era financiar a expansão das rodovias brasileiras. O dinheiro arrecadado era para ajudar o governo nas construções e conservação da malha rodoviária federal. Foram esses recursos que permitiram a implementação das principais rodovias que ainda hoje são responsáveis pela circulação da maior parte das riquezas do País. Já o IPVA foi criado em novembro de 1985, e passou a valer em janeiro de 1986. Diferentemente da TRU, o dinheiro desse imposto não era vinculado a nenhuma contrapartida e passou a ser usado pelos governos estaduais e pelos municípios para o pagamento de despesas ordinárias da administração pública.

Essa mudança é que despertou a ira de muitos críticos. No Brasil, a compra dos veículos já é pesadamente taxada por vários tributos que incidem sobre o consumo (ICMS, IPI, PIS e Cofins), não fazendo sentido tributar também o valor do bem. Outro argumento é que os impostos que incidem sobre o patrimônio (IPTU, ITR, IPVA) tributam a renda em duplicidade. No caso do IPVA, temos alguém que adquiriu renda, soube poupar seu dinheiro -- e com essa sobra, já tributada pelo Imposto de Renda, adquiriu um automóvel, que novamente foi tributado. Para piorar, essa operação é repetida anualmente. Na visão desses críticos, todos os impostos que incidem sobre o patrimônio penalizam quem segue as melhores práticas de economia doméstica.

Gostemos ou não, concordemos, ou não, O IPVA ainda é um imposto obrigatório previsto em lei aos proprietários de veículos -- com isenção, no Estado de São Paulo, para os modelos fabricados há 30 anos ou mais. E sua inadimplência afeta, mais uma vez, quem segue à risca o ordenamento jurídico. Quem está com as contas em dia, fez sua parte e quer o retorno do seu imposto em obras e serviços que ajudem a melhorar a vida da comunidade. Sem o dinheiro dos devedores, o Estado e o município deixam de investir e isso prejudica a todos.

Até que a reforma tributária que tramita no Congresso Nacional seja aprovada, e um novo sistema de arrecadação de impostos surja, é dever de todos os cidadãos estar em dia com suas obrigações. Só assim a máquina pública pode girar com maior eficiência e atender adequadamente quem realmente precisa de apoio.