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Aquecimento global

Palavras ao vento

Os discursos podem ser alarmistas, a encenação dos líderes pode até convencer, mas a Terra vai continuar sofrendo

09 de Novembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Joseph Eid / AFP (8/11/2022))

As atenções do mundo estão voltadas, esta semana, para a Conferência do Clima, no Egito. A COP27 começou com uma série de discursos bastante alarmistas. Para alguns líderes mundiais, a humanidade está à beira da extinção se medidas para salvar o planeta não forem adotadas urgentemente.

Em seu discurso, na segunda-feira (7), o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que ou os países passam a “cooperar” diante da mudança climática ou vamos todos “morrer”.

“A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer. Ou um pacto pela solidariedade climática, ou um pacto pelo suicídio coletivo. Não podemos aceitar que nossa atenção não esteja voltada para a mudança climática, apesar da guerra na Ucrânia e de outros conflitos, porque a mudança climática tem seu próprio calendário”, alertou o secretário-geral da ONU.

Essa nova edição da reunião anual da ONU sobre o clima promete não ser muito diferente das demais. O tempo todo o que se nota é a disputa habitual entre países industrializados e nações em desenvolvimento, basicamente a respeito do dinheiro que deve ser destinado para a adaptação às mudanças, reduzir as emissões de gases do efeito estufa e pagar pelas perdas e danos.

Nesse aspecto, a Europa tem-se notabilizado em reclamar do restante do mundo. Os países europeus só esquecem que foi graças a eles que chegamos ao estágio onde estamos agora. Foram os europeus que invadiram os outros continentes e extraíram -- e extraem --, tudo o que é possível para manter os luxos e confortos do seu próprio modo de vida. Nada mais justo que boa parte da conta fique agora com eles.

A situação é bastante grave por lá. O continente europeu é o de aquecimento mais acelerado em todo o planeta. Nos últimos 30 anos, a Europa viu as temperaturas subirem mais que o dobro da média global, com um aumento de meio grau a cada década, de acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial publicado no dia 2 de novembro.

Só no verão deste ano, cerca de 15.000 pessoas morreram na Europa devido às ondas de calor. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), destacando a Espanha e a Alemanha como os países mais afetados.

Os três meses entre junho e agosto foram os mais quentes na Europa desde que começaram a ser feitos registros, com temperaturas excepcionalmente altas que provocaram a pior seca detectada no continente desde a Idade Média.

Durante a COP27, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu que países do hemisfério norte, com alta capacidade de mobilização de capital, e do hemisfério sul, que ainda mantêm abundantes recursos naturais, formem parcerias para acelerar a transição energética para fontes renováveis.

Ursula von der Leyen ainda insistiu que os países que mais emitem carbono no mundo devem ampliar suas “ambições climáticas”, e pediu que as outras nações do norte aumentem o nível de financiamento aos países emergentes e em desenvolvimento.

O discurso é bastante coerente, só que falta apoio na realidade vivida pelo planeta. Desde a pandemia da Covid-19, passando pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, o mundo virou de cabeça para baixo e é difícil negociar acordos em períodos de alta tensão política.

A Europa aproxima-se do inverno. Na próxima semana, as temperaturas começam a ficar abaixo de zero em várias regiões do continente e vai faltar gás e energia para abastecer todo mundo. Os preços, principalmente da eletricidade, dispararam e nunca se registrou inflação tão alta como a atual. No isolamento de seus gabinetes, os principais líderes europeus sabem que a situação é crítica e que não há saída que não passe pelo aumento do uso de combustíveis fósseis e de energia nuclear.

Diante desse cenário fica quase impossível se comprometer e cumprir, verdadeiramente, com as metas acordadas pelos países em Paris. Os discursos podem ser alarmistas, a encenação dos líderes mundiais pode até convencer os mais incautos, mas a Terra vai continuar sofrendo, nas próximas décadas, com os efeitos de uma superpopulação que luta para sobreviver. A exploração dos recursos naturais é a única forma, atual, de manter o ser humano vivo. O resto é conversa para boi dormir!