Editorial
A era das máscaras caminha para o fim
A pandemia deixou marcas e cicatrizes em quase todas as famílias brasileiras, mas a hora é de voltar à vida normal
Um dos símbolos do combate à Covid-19 está, aos poucos, desaparecendo de vista. As máscaras faciais estão caindo em desuso e é cada vez mais raro encontrar pessoas nas ruas usando corretamente o acessório.
Numa breve visita ao centro de Sorocaba a reportagem do jornal Cruzeiro do Sul pode constatar que o número de pessoas que ainda utilizam a proteção facial diminuiu. A maioria está sem ou então com ela nas mãos ou no queixo. A mudança de comportamento acompanha o avanço da vacinação. Muitos brasileiros, principalmente os mais idosos e os que possuem algum tipo de comorbidade, já tomaram pelo menos quatro doses da vacina anti-Covid. Outro tanto já contraiu a doença pelo menos uma vez nesses últimos dois anos. Esses dois fatores, somados, garantem alto grau de imunização da população. Com isso, os índices de novos casos e de mortes caíram bastante.
Em Sorocaba, e na maioria dos municípios brasileiros, a obrigatoriedade do uso da máscara está mantida no transporte público, em clínicas e em hospitais. De acordo o Boletim Epidemiológico Acumulado divulgado nesta semana pela Secretária Municipal de Saúde (SES), a taxa de morte no município é de 2,4%, abaixo da taxa estadual, que é de 3%, e acima da taxa nacional, na casa de 2,1%.
Se a obrigatoriedade do uso da máscara está caindo, em Sorocaba tem político que resolveu dificultar ainda mais a imposição do uso do acessório. Por iniciativa do vereador Dylan Dantas (PSC), foi aprovado na Câmara Municipal o projeto de lei que pune as empresas que decidirem obrigar funcionários ou clientes a usar máscara. O valor da multa pode chegar a R$ 16 mil. O texto foi considerado inconstitucional pela Comissão de Justiça da Casa, mas mesmo assim foi a plenário e acabou aprovado por grande margem de votos. Agora vai ser regulamentado até ficar pronto para entrar em vigor.
Deixando um pouco Sorocaba de lado, em Brasília, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou, na quarta-feira (17), a suspensão da obrigatoriedade do uso de máscara em aeroportos e aeronaves do Brasil. A proteção compulsória foi implementada em dezembro de 2020, no auge da pandemia no País.
O entendimento dos técnicos é de que a máscara ainda é recomendável em espaços públicos como aeroportos e aeronaves, mas não mais obrigatória. Assim, ela passa de uma medida de saúde coletiva para um “compromisso de responsabilidade individual”.
A Anvisa justificou a mudança de posicionamento sobre o tema com base na portaria emitida pelo Ministério da Saúde em 22 de abril, que declarou o encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional pelo novo coronavírus.
Segundo o diretor da Anvisa, Alex Machado Campos, apesar do fim da obrigatoriedade do uso da máscara nas aeronaves, ficam mantidos os avisos sonoros e o desembarque de passageiros por fileiras. Esta última, segundo ele, reduz a aglomeração no momento em que a filtragem do ar interno é menos eficiente.
Durante a pandemia, o uso da máscara contribuiu bastante para evitar que a propagação do novo coronavírus se acelerasse. Agora, com a doença perdendo importância no nosso dia a dia, os acessórios começam a voltar para as gavetas, como uma lembrança de um dos mais trágicos períodos do século XXI.
Os números mundiais da Covid são impressionantes. Mais de 6,4 milhões de pessoas perderam a vida ao redor do mundo. Ainda hoje, com todos os avanços no combate à doença e com a vacinação em massa em muitos países, mais de 2 mil morrem todos os dias vítimas do novo coronavírus.
A pandemia deixou marcas e cicatrizes em quase todas as famílias brasileiras, mas a hora é de voltar à vida normal. Só assim estaremos homenageando aqueles que se foram durante esse período triste. Que possamos aproveitar esses dias difíceis com sabedoria, para impedir que situações semelhantes a essa voltem a prejudicar toda a sociedade. Enquanto não temos essa certeza do que o futuro nos reserva, o ideal é guardarmos com carinho as máscaras que tanto nos ajudaram a viver.