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Editorial

As armas para enfrentar a inflação

O governo sinaliza que não pretende tolerar aumentos abusivos. E que fará tudo para conter a inflação

13 de Maio de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: EMIDIO MARQUES / ARQUIVO JCS)

O governo federal e o Banco Central estão tomando uma série de medidas que permitam criar um cenário propício para a desaceleração da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril foi menor que o de março. Caiu de 1,62% para 1,06%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que faz o acompanhamento mensal, o resultado acumulado em 12 meses atingiu a marca de 12,13%.

Para tentar derrubar mais rapidamente a inflação, o governo federal anunciou, na quarta-feira (11), que vai zerar a alíquota do imposto de importação de sete categorias de produtos alimentícios. A decisão foi tomada pelo Comitê-executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex), do Ministério da Economia.

Em coletiva de imprensa para detalhar as medidas, o secretário-executivo da pasta, Marcelo Guaranys, disse que o objetivo principal dessa medida é evitar que a inflação avance.

“Sabemos que essas medidas não revertem a inflação, mas aumentam a contestabilidade dos mercados. Então, o produto que está começando a crescer muito de preço, diante da possibilidade maior de importação, os empresários pensam duas vezes antes de aumentar tanto o produto. Essa é a nossa lógica com esse instrumento. Nós também estamos muito preocupados com o impacto da inflação sobre a população mais pobre, sobre a população em geral. Nós sabemos quanto isso pode corroer o poder de compras de todos”, explicou Guaranys.

Essa redução de impostos de importação autorizada pelo governo vale até o último dia deste ano. Dentre os produtos alimentícios que tiveram a alíquota de importação totalmente zeradas estão as carnes desossadas de bovino congelado, a farinha de trigo e derivados usados na panificação e milho em grão.

A medida serve de alerta para o mercado. O governo sinaliza que não pretende tolerar aumentos abusivos de preço. E que fará tudo para conter a inflação.

Além de zerar a alíquota de importação de produtos alimentícios, a Camex também reduziu ou zerou o imposto sobre outros produtos importados. Dois deles, o ácido sulfúrico e o mancozebe, que são insumos usados na produção agrícola.

Esse é um primeiro passo que, se necessário, pode ser acompanhado de outros. Um deles é a recomposição de nossos estoques reguladores. Há vários anos, a Companhia Nacional de Alimentos (Conab) abriu mão dessa política. Preferiu deixar que o mercado regesse a cotação dos grãos. Essa medida talvez precise ser revista. Se tivéssemos em nossos silos e armazéns públicos boas quantidades de arroz, feijão, soja e milho, seria a hora de liberar esses estoques para conter a inflação. A medida é muito parecida com a que o Banco Central faz com o dólar. Quando a moeda americana está com a cotação em alta acelerada, o Brasil vende suas reservas para segurar a desvalorização do real.

O governo já demonstrou que está preparado para lutar contra a alta da inflação. As primeiras armas foram lançadas e já começaram a surtir efeito. Só que o Brasil está inserido numa conjuntura global que aponta para a elevação de preços, principalmente do petróleo, do gás e dos alimentos.

Um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado há poucos dias, mostra que a inflação vem subindo mesmo entre os países de economia mais estável. A União Europeia apresentou um índice de 7,8% (ante 6,2% em fevereiro), enquanto os Estados Unidos, depois de fechar 2021 com inflação em 7% (a maior dos últimos 40 anos), apresenta uma taxa de 8,5% no acumulado de 12 meses até março.

Diante desse quadro, a solução para a inflação não está só aqui no Brasil. Vai ser necessário um grande acordo mundial para que os níveis retornem ao período pré-pandemia. E isso passa pelo fim da disputa entre Rússia e Ucrânia, pela contenção da Covid na China e pela reorganização das cadeias produtivas.

Sem isso, ainda vamos sentir, no bolso, os efeitos dessa confusão que se espalha pelo mundo. O importante neste momento é que cada um faça a sua parte, evitando que oportunistas aproveitem o momento para ganhar mais do que merecem.