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Editorial

Hepatite misteriosa acende alerta na OMS

É vital que as pesquisas sobre as origens dessa hepatite misteriosa sejam céleres e transparentes

07 de Maio de 2022 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Divulgação / Shutterstock)

Nem bem saímos por completo do fantasma da Covid 19 e uma nova ameaça, ainda pouco conhecida, começa a preocupar autoridades sanitárias do mundo todo.

É uma hepatite ainda considerada misteriosa que tem atingido crianças de todas as idades em vários países, de quase todos os continentes. Os primeiros casos foram reportados no Reino Unido, no início de abril. De lá pra cá a OMS (Organização Mundial de Saúde) já emitiu alerta mundial após diversas ocorrências graves serem relatadas.

Os principais sintomas da doença são: dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia, que é caracterizada quando a pele e a parte branca dos olhos ficam amarelados. Exames clínicos podem ser feitos para verificar o aumento dos níveis de enzimas hepáticas.

A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ter diversas origens, sendo as mais comuns as infecções pelos vírus tipo A, B e C, além do consumo abusivo de álcool ou outras substâncias tóxicas como medicamentos e drogas. A nova variedade não se encaixa em não tem relação com nenhuma dessas características.

No Brasil, alguns casos estão sendo monitorados pelo Ministério da Saúde. O estado do Rio de Janeiro investiga seis casos suspeitos. A informação foi passada na sexta-feira (6) pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ). Três, dos seis casos, foram detectados na capital: são crianças de 4 e 8 anos, além de um bebê de 2 meses. Estão sendo analisadas ainda outras ocorrências com uma criança de 3 anos em Niterói e com outra de 2 anos em Araruama. Em Maricá, a morte de um bebê de 8 meses também é objeto de investigação. Já o Ministério da Saúde acompanha também três casos suspeitos no Paraná.

Outros países também já registram casos similares. Na semana passada, a OMS atualizou os números e relatou 169 ocorrências de hepatite aguda envolvendo crianças e adolescentes de 1 mês a 16 anos em 11 países da Europa e nos Estados Unidos. Uma morte foi registrada e dezessete pacientes precisaram de transplantes de fígado. Países da América Latina, como Argentina e Panamá, também informaram nos últimos dias que estão monitorando pacientes.

No Reino Unido, chegaram a circular mensagens pelas redes sociais que apontam relação entre os casos e as vacinas contra a covid-19. Segundo a OMS, trata-se de uma desinformação e essa associação está completamente descartada, pois a maioria dos pacientes são de uma faixa etária não envolvida pelas campanhas de imunização. O que não se informou, até agora, é se há relação entre os casos e as vacinas tomadas pelos pais das crianças que adoeceram.

A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido acredita que a principal hipótese é de que os casos estejam associados com um adenovírus, que tem sido detectado em exames de boa parte dos pacientes. O adenovírus foi usados como vetor viral em pelo menos quatro vacinas contra o coronavírus utilizadas no mundo - Oxford-Astrazeneca, Janssen, Sputnik V e CanSino. Segundo os laboratórios, em todas elas, os adenovírus foram inativados, ou seja, perderam a capacidade de se multiplicar no organismo humano.

No entanto, como é incomum a ocorrência de hepatites em crianças previamente saudáveis causadas por este tipo de agente patogênico, vários fatores estão sendo investigados e não se descarta a possibilidade de uma síndrome pós-infecção pela Covid 19. A doença pode ainda ser um desdobramento da ação associada de diferentes agentes infecciosos.

Nos Estados Unidos, um estudo publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças investigou casos detectados no estado do Alabama e apontou que os pacientes estavam contaminados pelo adenovírus tipo 41, que geralmente causa gastroenterite. Embora ele não seja conhecido por provocar hepatite, sua associação com as ocorrências analisadas é considerada provável pelos pesquisadores norte-americanos. ‘Neste momento, acreditamos que o adenovírus pode ser a causa desses casos relatados, mas outros potenciais fatores ambientais e situacionais ainda estão sendo investigados‘, informou o CDC.

É vital, neste momento, que as pesquisas sobre as origens dessa hepatite misteriosa sejam céleres e transparentes. Que a população seja devidamente informada e alertada de como se proteger desse novo vírus. Já ficou demonstrado que ele tem capacidade de se espalhar em pouco tempo. Não se deve descartar, neste momento, que outros fatores ligados ao combate ao novo coronavírus também sejam considerados. As autoridades de saúde do Brasil têm total capacidade de agir rapidamente diante dessa nova ameaça. E os pais devem ficar atentos ao surgimento de sintomas que possam indicar o aparecimento da doença. O diagnóstico precoce sempre é a melhor arma para se chegar à cura e evitar sequelas para o futuro.