Leis de trânsito precisam ser mais duras

A Operação Carnaval realizada nas rodovias federais do País registrou um aumento de 225% no número de motoristas flagrados dirigindo sob influência de álcool na comparação com 2021

Por Cruzeiro do Sul

O feriado de Carnaval escancarou um problema que afeta o Brasil há tempos: a imprudência e irresponsabilidade no trânsito.

A Operação Carnaval 2022 realizada nas rodovias federais do País registrou um aumento de 225% no número de motoristas flagrados dirigindo sob influência de álcool na comparação com 2021. Mesmo considerando que houve um aumento significativo do número de testes aplicados, com 78.958 registros, trata-se de um crescimento alarmante. No feriado, os autos de infração desse tipo somente nas estradas federais, somaram 2.551, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ao todo, de forma geral, foram registradas 77.832 autuações, com aumento de 8% na comparação com o ano passado. Destas, 10.921 foram por ultrapassagens indevidas e 8.296 por condutores e passageiros flagrados sem o cinto de segurança, aumento de 14% e 6%, respectivamente, em relação a 2021.

Realizada entre os dias 25 de fevereiro e 2 de março, a operação envolveu 16,8 mil policiais, que fiscalizaram 165.319 pessoas e 132.931 veículos. Segundo a PRF, o crescimento do número de infrações neste ano levou ao aumento de 16% em acidentes graves, com mais 6% de feridos e 18% mais mortes em relação às ocorrências de 2021.

Lamentavelmente, porém, era algo esperado. Em dez anos, o saldo das festividades de Carnaval nas estradas e rodovias do País é de mais de 58 mil pessoas acidentadas, conforme levantamento da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), com base em registros da PRF. Entre 2010 e 2019, ocorreram 26.438 acidentes, com o envolvimento de 58.706 pessoas. Uma média de 2,2 vítimas por registro. Na análise da Abramet, a proporção é substancial, uma vez que demonstra como a irresponsabilidade ao volante impacta quase que invariavelmente não só a saúde do condutor do veículo, mas também o bem-estar físico e psicológico de terceiros. Do total de casos nesse período, o estudo revela que 19.117 pessoas sofreram ferimentos leves ou graves e 1.411 foram a óbito em decorrência da imprudência no trânsito. Somente em 2019, último ano antes da pandemia do novo coronavírus, os dias de folia de 1 a 6 de fevereiro acumularam 2.945 pessoas acidentadas. Desse grupo, 1.567 vítimas sofreram agravos físicos ou perderam a vida.

O levantamento da Abramet apresenta ainda um recorte sobre os acidentes no período de Carnaval que tiveram como motivação o consumo de álcool. Ao longo desses dez anos, aconteceram 1.506 episódios, com 3.292 vítimas. Desse total, 1.445 sofreram lesões corporais, em diferentes níveis, e 92 morreram.

Os números reforçam a gravidade da combinação de direção e álcool. Apesar da Lei Seca, que proíbe e impõe penalidades para o condutor que dirige sob a influência do álcool, ainda são comuns os acidentes ocasionados em função de bebida.

Infelizmente, é consenso que as condutas básicas de segurança no trânsito são sistematicamente desprezadas no País. E o motivo de tudo isso é sabido de cor e salteado: a falta de punição adequada aos infratores. Houve evolução? Sim. A Lei Seca e a Lei da Cadeirinha obrigatória ajudaram bastante a melhorar esse cenário. Contudo, ainda estamos muito longe do ideal.

Apesar de a fiscalização atuar de forma ostensiva, ela não é suficiente para coibir as práticas criminosas. Dois exemplos -- um na região e outro envolvendo um sorocabano -- ilustram o descaso com que as pessoas ainda encaram a legislação de trânsito.

Passando o feriado em Caraguatatuba, um veterinário de 43 anos, morador de Sorocaba, avançou sua caminhonete sobre a calçada e atropelou várias pessoas que estavam em um bar. Para piorar, a ação teria ocorrido de forma intencional. De acordo com a Polícia Militar, o homem apresentava sinais de embriaguez e havia discutido com um grupo dentro do comércio. Em seguida, ele deixou o local e voltou com o carro, atingindo as mesas que estavam na calçada. O veículo acertou uma policial militar, de folga, arrastando-a por 15 metros. Outras três vítimas foram encaminhadas ao hospital, onde apenas a policial ficou internada em estado estável. Após o atropelamento, o motorista fugiu do local. A polícia o encontrou em um condomínio. Ainda muito alcoolizado, ele precisou ser algemado e levado à força até a delegacia. No local, o motorista fez o teste de dosagem etílica e a embriaguez foi confirmada. O condutor acabou detido, mas passou apenas 48 horas preso. Foi solto e vai responder ao processo (corporal na direção de veículo, embriaguez ao volante, dano material e fuga de local de acidente) em liberdade. Fosse em um País com leis de trânsito mais rígidas, ele certamente ficaria um bom tempo detido.

O outro exemplo ocorreu em Salto de Pirapora, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Um motociclista de 19 anos morreu na noite de domingo (27) após ser atingido por um carro que trafegava na contramão. Segundo o B.O., o condutor do veículo fugiu sem prestar socorro.

São apenas dois relatos de uma infinidade de casos que se repetem ano a ano, mês a mês, dia a dia. Como sabemos, apenas a conscientização não resolve o problema. É preciso haver leis mais rígidas e punição real. Somente assim as pessoas irão entender que um veículo pode se transformar em uma arma, portanto é preciso responsabilidade ao usá-lo.