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Editorial

Sanções ‘sociais’ pressionam a Rússia

Por conta da guerra, russos estão isolados e com imagem desgastada em vários setores da sociedade

03 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Presidente da Rússia, Vladimir Putin. (Crédito: Mikhail Klimentyev / SPUTNIK / AFP)

“Putin está isolado, mais do que já esteve em qualquer momento”. A declaração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anteontem (1º), no discurso sobre o Estado da União, na presença do Congresso norte-americano, não é uma simples metáfora sobre a situação da Rússia após declarar guerra à Ucrânia. O país e seu presidente, Vladimir Putin, estão de “escanteio” no mundo, sofrendo severas e merecidas sanções em diversos setores da sociedade, a qual repudia massivamente o conflito armado iniciado pelos russos.

A restrição econômica mais severa vem da União Europeia, que vai excluir sete bancos russos do sistema de comunicação interbancária Swift, que sustenta as transações globais. No cinema, a organização responsável pelo Festival de Cannes baniu a presença da delegação russa na edição de 2022, em sinal de apoio aos artistas e profissionais da indústria cinematográfica ucranianos, “assim como suas famílias, cujas vidas estão em perigo”.

Já no esporte, as punições são variadas e atingem diversas modalidades. Fifa e Uefa suspenderam a seleção da Rússia e todos os clubes de futebol do país de qualquer competição organizada pelas entidades. Com isso, os russos não poderão participar das Eliminatórias para o Mundial do Catar e, consequentemente, da própria Copa do Mundo a ser realizada no final deste ano. Em nota, os órgãos lembram que o futebol precisa ser “um vetor de unidade e paz entre os povos”. Além disso, a Fifa determinou que nenhuma competição internacional seja disputada no território da Rússia.

O conselho executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) recomendou que as federações esportivas internacionais proíbam atletas e autoridades de Rússia e Belarus (que também apoia as ações bélicas) de competirem em seus eventos, “para proteger a integridade das competições esportivas globais e para a segurança de todos os participantes”.

A Federação Internacional de Vôlei (FIVB) não realizará mais na Rússia o Campeonato Mundial masculino da modalidade, programado para agosto e setembro de 2022. No automobilismo, o GP da Rússia de Fórmula 1 foi cancelado, e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) proibiu pilotos da Rússia e de Belarus de disputarem corridas usando a identificação de seus países. A Motorsport UK, órgão que comanda o automobilismo no Reino Unido, foi além e proibiu pilotos desses países a correrem na Inglaterra, na Escócia, no País de Gales e na Irlanda do Norte. Assim, o russo Nikita Mazepin, da equipe Haas, não disputará o GP da Inglaterra de Fórmula 1, por exemplo. Atletas russos e bielorrussos poderão jogar na elite dos circuitos da ATP e WTA, mas não sob o nome ou a bandeira de seus países, segundo as entidades dirigentes do tênis, que também suspenderam o evento combinado WTA-ATP de Moscou, programado para outubro. O novo número um do mundo, o russo Daniil Medvedev, poderá continuar participando de Grand Slams.

Vêm do esporte, também, dois exemplos emblemáticos de humanidade. O empresário russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, da Inglaterra, atual campeão do Mundial de Clubes da Fifa, decidiu vender o clube londrino e prometeu doar o lucro da venda a grupos de ajuda às vítimas da guerra na Ucrânia. E a tenista ucraniana Elina Svitolina, que derrotou a russa Anastasia Potapova no torneio de Monterrey, cumprimentou a oponente após o triunfo, disse que os tenistas não têm culpa do conflito e prometeu que doará ao exército da Ucrânia tudo o que ganhar em prêmios no torneio.

Com poderio bélico e recursos financeiros amplamente superiores, a Rússia pode vir a vencer o conflito na Ucrânia, que já deixou mais de dois mil civis mortos, segundo o serviço de emergência estatal ucraniano. Mas, no restante do mundo, ela certamente está isolada e cercada.