Editorial
Por novos ares na OAB nacional
Novo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, José Alberto Simonetti sucede Felipe Santa Cruz, que mais advogava em causa própria do que representava a Ordem
Uma mudança no comando da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pode sinalizar tempos melhores para todos os envolvidos nas relações da advocacia com a sociedade brasileira. Na última terça (1), o advogado criminalista José Alberto Simonetti, 43 anos, tomou posse como novo presidente da entidade. Ele foi candidato único na eleição para chefiar a Ordem, em pleito realizado na véspera. Foram 77 votos favoráveis a Simonetti, dois brancos e um voto nulo. A cerimônia de posse aconteceu na sede da OAB, em Brasília, e ele ficará na presidência até 2025.
Simonetti assume, assim, o lugar de Felipe Santa Cruz e, apesar de ter feito parte da gestão anterior como secretário-geral da entidade, tudo indica que seu mandato pode ser bem mais conciliador e produtivo do que o de seu antecessor. O motivo é simples. Filho de um desaparecido durante o período de regime militar no País, Santa Cruz praticamente transformou sua gestão à frente da OAB em uma cruzada pessoal. Desde que assumiu o cargo, em 2019, protagonizou seguidos embates com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e com vários membros do Executivo, independentemente da questão, muitas vezes pelo simples fato de o atual governo possuir muitos representantes militares.
É compreensível a tragédia pessoal pela qual ele e sua família passaram. Devemos, inclusive, nos compadecer e nos solidarizar. Contudo, quando se está à frente de uma entidade dessa magnitude, que representa milhares de pessoas e que possui uma representatividade que vai muito além do mundo jurídico, não se pode misturar o lado pessoal com o público.
Infelizmente, durante seu mandato, Santa Cruz muitas vezes pareceu advogar mais em causa própria do que representar a OAB. Em vez da busca por diálogo e equilíbrio, a entidade, na gestão Santa Cruz, trilhou constantemente o caminho contrário, do confrontamento, do tensionamento, da radicalização. Ainda que estivesse com a razão em determinados assuntos, a sensação que passava para a população era a de que se tratava mais de um embate pessoal do que uma discussão do todo na busca por soluções e caminhos.
Tanto a gestão do ex-presidente Santa Cruz foi muito mais “politizada” do que deveria que ele já revelou a alguns meios de comunicação que pode se filiar a um partido para disputar as próximas eleições. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), por exemplo, já declarou em algumas ocasiões que Santa Cruz é seu candidato ao governo do Estado. Assim, Santa Cruz deixou em aberto a possibilidade de concorrer a cargos eletivos.
Nesse sentido, a gestão de Simonetti traz a esperança de novos ares e nova postura para essa entidade tão grandiosa. A partir do novo comando, a direção nacional deve dar um refresco na conflituosa relação com o Governo. Evidentemente que a entidade vai continuar se posicionando nos assuntos mais relevantes da Nação. E não poderia ser diferente. Segundo Simonetti, sua missão número um é a defesa da Constituição. E se depender das palavras do novo presidente, a OAB pretende se voltar para uma gestão de advogado para advogado, muito mais classista, e também mais conciliadora, mantendo aberto o diálogo com todas as forças políticas do País.
De acordo com recentes discursos e entrevistas, Simonetti quer uma ressignificação da relação do advogado com a Ordem, uma reaproximação para a reconstrução da confiança perdida.
“A Ordem não pretende e não pretenderá aderir a nenhuma linha ideológica. Cumpriremos nosso papel defendendo prerrogativas de advogados que estarão nas eleições, defendendo o modelo eleitoral brasileiro, defendendo eleições limpas, justas, sem agressão e, sobretudo, sem a propagação de fake news.”
Ao indicar uma gestão mais classista e menos política e ideológica, o novo presidente já começou bem.