Crise hídrica
Água: perdas e desperdício
De cada 100 litros de água tratados pelo Saae/Sorocaba, 36 são desperdiçados. Ou seja, há uma perda de mais de um terço
As chuvas que voltaram a cair desde ontem sobre Sorocaba e região são bem vindas, principalmente neste momento de crise hídrica. Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Sorocaba (Saae), na primeira fase do racionamento, que ocorreu de 17 a 24 de janeiro, com interrupção no fornecimento das 22h às 5h, a economia de água foi de 13%, superando a meta inicial de 10%.
Com a nova etapa do racionamento, iniciada na terça-feira (25), com duração de 12 horas por dia, a economia de água subiu para mais de 15%, mas ainda não atingiu a meta esperada, que é de 20%, ou seja, 400 litros por segundo.
Felizmente, com as chuvas, o nível da represa de Itupararanga, principal fonte de abastecimento de água para Sorocaba, subiu nas últimas semanas. Após bater o índice crítico de 18%, atualmente está em 32%, em situação mais aceitável.
Agora, o que realmente ajudaria a combater esse problema -- que tem tudo para se tornar crônico, até mesmo por conta das mudanças climáticas observadas em todo o planeta -- é o desperdício. E infelizmente ele ocorre em todos os níveis e em todas as etapas do processo.
Conforme o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), de cada 100 litros tratados pelo Saae, 36 são desperdiçados. Ou seja, há uma perda de mais de um terço de toda a água. Nessa perda estão incluídos desde ligações clandestinas até vazamentos, passando por todos os passos como captação, tratamento e fornecimento.
E isso sem contar o desperdício praticado por parte da população. Afinal, não é difícil, mesmo no meio dessa falta de água, nos depararmos com munícipes lavando calçadas com esguicho, deixando torneiras abertas e abusando do uso desse recurso natural.
Voltando às perdas, de acordo com levantamento do Cruzeiro do Sul, com dados das prefeituras enviados ao MDR, 14 cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) têm perda acima de 30%. Na lista, além de Sorocaba, estão Tapiraí, Porto Feliz, Piedade, Itapetininga, Cerquilho, Iperó, Alumínio, Salto, Tatuí, Salto de Pirapora, São Roque, Tietê e Itu.
Ainda conforme o levantamento, oito cidades da RMS apresentam índice entre 20 e 30% de perda. São elas: Araçariguama, Pilar do Sul, Jumirim, Boituva, Capela do Alto, São Miguel Arcanjo, Alambari e Mairinque. Por fim, apenas cinco cidade apresentam desperdício abaixo de 20%: Cesário Lange (14,3%), Sarapuí (16,3%), Araçoiaba da Serra (18,2%), Votorantim (18,5%) e Ibiúna (18,9%).
E por mais absurdo que seja, há três cidades na RMS em que mais da metade do que é captado simplesmente não chega às torneiras dos consumidores. A situação acontece nas cidades de Itu (54,3%), São Roque (50,3%) e em Tietê (53%).
O pior de tudo é que esses níveis de desperdício são corriqueiros em todo o País. Mesmo sendo alta, a perda na distribuição de água em Sorocaba está abaixo da média nacional (que é de 40,1%) e também da região Sudeste (38,1%), de acordo com dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Uma notícia que pode ser considerada positiva no meio de tanto desperdício é que o índice de perdas totais em Sorocaba caiu de 36,21% em 2020 para 36,07% em 2021. De acordo com o Saae, do percentual de perdas aproximadamente 16,23% são de escapes de água.
O restante é de perdas aparentes, isto é, decorrentes de submedição, erro no medidor/hidrômetro ou ligações clandestinas. Outro ponto positivo é que Sorocaba vem apresentando melhora nesse quesito ano a ano, na contramão da média do Brasil, cujo índice subiu de 39,2% (2020) para 40,1% (2021), assim como o da região Sudeste, que foi de 36,1% (2020) para 38,1% (2021).
Ainda assim, o desperdício de água continua sendo um grande desafio para todos. Dos gestores à população. É preciso haver uma conscientização ainda maior.
Os órgãos e agentes públicos envolvidos com essa questão precisam trabalhar diuturnamente na busca para reduzir as perdas do sistema, com ações que vão da melhoria de equipamentos à maior fiscalização, passando por manutenção, agilidade em casos de vazamentos, monitoramento, medições e combate a ligações clandestinas e fraudes, entre outras.
O investimento em melhorias tem de ser gradativo e constante. Já a população precisa fazer uma coisa aparentemente simples, mas tão difícil de ser entendida por muitos: não desperdiçar água.