Hora de planejar a volta por cima

O números são extremamente favoráveis à economia de Sorocaba. Porém (...) por mais resistente que seja a estrutura produtiva, não é imune aos percalços externos

Por Cruzeiro do Sul

Se fosse um país, Sorocaba estaria no topo do ranking mundial do desenvolvimento econômico, superando com folga os índices de crescimento alcançados pelos campeões China e Índia e vencendo de lavada potências tradicionais, incluindo Estados Unidos e todos os integrantes da União Europeia -- em conjunto ou separados. Essa é uma das conclusões notáveis que se pode inferir numa rápida avaliação dos dados referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios brasileiros em 2019 -- corrigidos e divulgados nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -- e de simples comparações com estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o mesmo período.

Vale destacar que essa distinção sorocabana é digna de celebração. Seus efeitos extrapolam a retórica acadêmica, podendo ser medidos no dia a dia das empresas e dos cidadãos. Afinal de contas, as cifras embutidas no PIB constituem a maneira mais comum de medir o desenvolvimento de um país, de um Estado, de uma região ou de um município. Na prática, ele representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos num espaço geográfico durante um determinado período. Seu principal objetivo é medir a atividade econômica e o nível de riqueza. De maneira simplificada, pode-se dizer que quanto mais se produz, mais se está consumindo, investindo e vendendo. Se o PIB cresce, significa que a economia vai bem e produz mais. Na contramão, PIB em queda representa atividade encolhendo.

Voltando aos números de 2019, conforme o IBGE, o PIB sorocabano no último ano pré-pandemia do novo coronavírus cresceu 6,4% na comparação com 2018. Ou seja, o resultado das atividades da indústria, comércio, prestação de serviços, construção civil do município, entre outras, subiu de R$ 35.008.761.056,00 para R$ 37.283.417.564,00. Em valores absolutos, Sorocaba é o 24º município mais rico do País -- embora seja o 31º em população --, sendo superado apenas por 11 capitais e 10 cidades com número de habitantes mais elevados. Outro dado que chama a atenção: embora sejam menos de 0,32% da população brasileira, os sorocabanos contribuem com cerca de 0,5% das riquezas geradas em todo o território nacional.

Um cálculo elementar revela que a taxa de incremento da riqueza municipal no período considerado corresponde a mais de cinco vezes a média apurada em todo o Brasil, que ficou em 1,2%. O desempenho do setor produtivo de Sorocaba como um todo superou inclusive o do Estado de São Paulo, onde o conjunto dos 645 municípios registrou evolução positiva de 1,7% -- quase quatro vezes menos. Ampliando a escala comparativa para o âmbito internacional obtém-se uma noção ainda mais acurada da relevância da proeza dos setores produtivos sorocabanos. Dados do FMI permitem a formulação de um ranking hipotético com a inclusão de Sorocaba entre os países com a mais elevadas taxas de crescimento econômico em 2019. O índice de 6,4% ante 2018 alcançado pelo município supera até o crescimento obtido por chineses e indianos -- ambos com 6,1% -- e as taxas dos EUA (2,4%), Espanha (2,2%), Canadá (1,5%), França e Reino Unido (1,2%) e Japão (0,9%). Vale lembrar que o PIB de toda a Zona do Euro aumentou 1,2% no mesmo período.

Mais expressivo do que a evolução positiva do índice que mede a atividade econômica em um período de tantas incertezas é o aumento do PIB per capta do sorocabano. No município, o valor -- resultado da divisão do produto interno bruto pelo número de habitantes -- subiu 5,19%, passando de R$ 54.328,00 em 2018 para R$ 57.233,00 no ano seguinte. O Estado de São Paulo também registrou aumento, em proporção bem abaixo dos valores de Sorocaba: o PIB per capta paulista subiu de R$ 50.248,00 para R$ 52.992,00. Já o PIB por brasileiro calculado em 2019 ficou em míseros R$ 35.161,70.

Não é necessário ser expert em economia para deduzir desses números uma equação extremamente favorável à economia de Sorocaba. Porém, o bom senso nos obriga a lembrar que todo esse quadro é anterior à crise mundial sem precedentes provocada pela Covid-19. Lamentavelmente, por mais resistente, diversificada e sólida que seja a estrutura produtiva do município, ela não é totalmente imune aos percalços externos. Não podemos esquecer dos revezes enfrentados em 2009 e 2016 por razões bem mais simples. Assim como todos os países padeceram e continuam padecendo, certamente resultarão sequelas a serem curadas na economia sorocabana. Independentemente do que os PIBs de 2020 e de 2021 nos reservam, é possível antecipar uma certeza: Sorocaba possui plenas condições de superar e dar a volta por cima mais uma vez. O caminho passa, obrigatoriamente, pela proatividade. Isso inclui planejamento, união de esforços, foco e, claro, políticas públicas para atrair ainda mais investimentos. Então, mãos à obra!