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Editorial

Vigiar e proteger todas as crianças

Muitos casos de violência acontecem dentro de um espaço que deveria ser o abrigo e o recanto seguro das famílias: o lar

18 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Getty Images)

Os casos de violência doméstica contra crianças registrados recentemente em Sorocaba e em cidades da Região Metropolitana, além de outros tantos ocorridos pelo Brasil, chamam a atenção das autoridades e da população. Indignada, a sociedade pede uma intervenção imediata sobre esse tipo de crime que, por vezes, é silencioso e repugnante.

Silencioso no sentido de que muitos deles, senão a maioria, acontecem dentro de um espaço que deveria ser o abrigo e o recanto seguro das famílias: o lar.

Infelizmente, nos últimos tempos temos presenciado alguns casos desse tipo na cidade e na região. São situações que nos deixam indignados, impotentes e perplexos diante da maldade e desfaçatez de algumas pessoas.

Anteontem, por exemplo, a Prefeitura de São Roque divulgou informações sobre o caso de três irmãos -- de 4, 7 e 11 anos -- que sofriam tortura e maus-tratos praticados por um casal de tios. A dupla está desaparecida e a polícia os considera fugitivos.

Nesse caso, dois dados causaram muito incômodo: o fato de a criança de 7 anos ter deficiência mental e o de que a mãe biológica já agredia os filhos. Por conta disso, ela perdeu a guarda das crianças, que ficaram com os tios. Porém, em vez de terem uma vida melhor, continuaram sofrendo tortura, agressões, ficavam sem comer por dias e eram obrigadas a dormir no chão. Um absurdo inenarrável.

Em Sorocaba, outra ocorrência policial recente que causou revolta foi a de uma menina de 12 anos que acusou o próprio pai de abusar dela sexualmente. A situação veio à tona na quarta (15) quando ela conseguiu mandar mensagens para um professor relatando o que estava acontecendo, inclusive no momento em que sofria nova violência sexual.

O pai acabou preso, mas foi rapidamente colocado em liberdade por alegada falta de provas. A menina está sob os cuidados da mãe. Ela obteve, pelo menos, uma medida protetiva contra o pai, o que, teoricamente, deveria garantir alguma segurança. Infelizmente, como estamos cansados de saber, no Brasil a medida protetiva tem efeito quase nulo. Como não há controle nem vigilância, há muitos casos de homens que, mesmo com essa ordem judicial, voltam a praticar o crime contra a vítima.

Se até medidas protetivas estão sendo desobedecidas por agressores, é fundamental que novas estratégias de combate a esse tipo de crime sejam adotadas.

Três semanas atrás, outro episódio chocante envolvendo uma criança já havia acendido o sinal de alerta para esse tipo de ocorrência. Um bebê de um ano foi abandonado na linha férrea no Jardim Nova Esperança. O local é considerado ponto de usuários de drogas. O resgate ocorreu por uma equipe Guarda Civil Municipal, que fazia patrulhamento na região após notar um suspeito indo para um matagal. Contudo, ainda na linha do trem, os guardas ouviram o choro da criança, que estava sozinha, chorando e com as fraldas sujas. O bebê foi encaminhado para o Conselho Tutelar e a mãe, localizada e presa. Ela ficou detida somente algumas horas e foi libertada. Outros dois filhos pequenos da mulher contaram às autoridades que ela lhes dava bebida alcoólica.

Situações como essas afrontam a legislação e ferem os direitos humanos dessas crianças.

Sem dúvida alguma, novas ações precisam ser feitas pelas autoridades. Entretanto, a sociedade pode e deve ajudar essas vítimas fazendo algo muito simples e rápido: denunciando os criminosos. Vizinhos, amigos, familiares podem e devem alertar sobre casos de violência doméstica, ainda mais porque isso pode ser feito anonimamente.

A violência doméstica é crime e deve ser denunciada pela sociedade e punida pelas autoridades.

Sejamos uma sociedade vigilante e solidária.