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Editorial

Os reais perigos da guerra virtual

Impotentes para defender a população da ousadia dos ladrões fantasmas, governos e especialistas têm apenas dois conselhos: prevenção e muita atenção

10 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / TV BRASIL)

Foi necessário apenas o último par de anos para os golpes digitais passarem a figurar em destaque no ranking dos mais perniciosos vilões da segurança pública. Aproveitando o isolamento social exigido pela pandemia de Covid-19 e usando a tecnologia a seu favor, os criminosos -- cada vez mais criativos e sofisticados --, surpreendem diariamente, desenvolvendo novas formas de obter vantagens sobre os usuários da internet e dos aparelhos celulares. Praticamente impotentes para defender a população da ousadia dos ladrões fantasmas, governos, autoridades policiais e especialistas em informática têm apenas dois conselhos para quem quer evitar cair na emboscada real armada em pleno muito virtual: prevenção e muita atenção.

Experiências relatadas pelas vítimas dos ladrões virtuais revelam que, na maioria dos casos, os golpistas combinam ciência com o fator surpresa e ainda acrescentam subterfúgios de forte impacto psicológico para enganar até mesmo as pessoas mais atentas. O Cruzeiro do Sul deste sábado (09) relatou uma ocorrência registrada em Sorocaba que exemplifica perfeitamente o estado de vulnerabilidade a que a população está exposta 24 horas por dia. De acordo com a apuração da Polícia Civil, uma mulher de 70 anos transferiu R$ 4,9 mil para uma conta que acreditava ser de sua filha. Porém, na verdade, ela estava transferindo o dinheiro diretamente para a conta bancária de um golpista que se passara pela moça usando uma conta falsa de WhatsApp. O detalhe é que o perfil exibia uma foto da filha da idosa para dar mais credibilidade. A vítima chegou a enviar o comprovante da transação bancária para a suposta filha.

Assim, trafegando disfarçados, às vezes com cara, literalmente, de parentes e amigos, os golpistas virtuais furtam descaradamente por meio de ferramentas que fazem parte do cotidiano de todo mundo, como WhatsApp, Facebook, Instagram, e-mails e até mesmo o recém-criado e tão útil Pix -- o ultra moderno sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central do Brasil. O repertório dos gatunos virtuais é amplo, cuidadosamente pensado e planejado para driblar a prudência dos usuários de internet e celulares em algum momento. Eles sabem que, mais cedo ou mais tarde, conseguirão pegar alguém com a guarda abaixada. A lista inclui desde os já manjados falsos boletos de pagamento aos leilões imaginários, passando pelos namorados de mentirinha disponíveis em sites de relacionamento, e-commerces fictícios e incluindo as pesquisas hipotéticas em nome de órgãos governamentais.

Atualmente, a clonagem de WhatsApp é um dos golpes mais comuns. Nele, os criminosos enviam mensagens aos contatos do indivíduo que teve o celular clonado e pedem dinheiro. Muitas pessoas, por acreditarem que um conhecido está passando por uma emergência, fazem as transferências financeiras e se tornam vítimas dos espertalhões profissionais. Outro golpe digital que está se tornando comum nas redes digitais é conhecido como bug do Pix. Nestes casos, o roteiro é, geralmente, o seguinte: os criminosos indicam que, por um erro no Pix, as pessoas podem ganhar mais do que transferiram para uma determinada chave. É claro que é tudo mentira e, após o envio, a vítima perde o dinheiro para sempre.

Semelhante à clonagem, existe, ainda, o golpe do WhatsApp duplicado. Nesta modalidade de armadilha, o script é um pouco mais elaborado. O estratagema consiste no criminoso se passar por uma pessoa, utilizando seu nome e sua foto de perfil, mas com um número diferente. Este foi o cenário da trama que envolveu a idosa sorocabana há poucos dias. Ao utilizar a identidade de uma pessoa conhecida da vítima -- no caso, a filha dela --, o bandido solicita depósitos e transferências bancárias aos familiares e amigos da pessoa.

Os estratagemas citados anteriormente são apenas algumas das possibilidades de golpes que não param de crescer a cada dia. Lamentavelmente, não existe uma tecnologia capaz de rebater todos os truques engendrados pelos bandoleiros à espreita na emaranhada -- porém, indispensável -- infovia digital que interliga a tudo e a todos no mundo moderno. Como dito no início, tudo o que se pode fazer é ficar sempre de olhos abertos e adotar três hábitos básicos de prevenção. Em primeiro lugar, se alguém -- mesmo que seja seu marido, esposa ou filho -- pedir dinheiro por mensagem, solicite que faça isso pessoalmente ou utilizando um áudio; segundo, nunca forneça senhas de redes sociais ou de cartões por telefone e/ou por e-mail; e, por fim, fique atento às lojas e aos vendedores em sites.

Em teoria, cada cidadão está sozinho na luta contra a avalanche de crimes virtuais. Na prática, felizmente, é possível reverter essa guerra desigual com uma boa dose de informação e a colaboração constante entre os usuários de internet e celulares. Além disso, não deixe de registrar boletim de ocorrência nos órgãos policiais. Afinal, os criminosos virtuais também são humanos e, a qualquer momento, podem cometer um erro.