Editorial
Boas vitórias contra o tráfico
Em Fortaleza, Polícia Federal fez apreensão de mais de uma tonelada de cocaína; em SP, 150 toneladas de drogas foram retiradas de circulação em seis meses
O combate ao tráfico de drogas no Brasil teve duas grandes notícias nesta semana. Na quarta-feira, em um belo trabalho de investigação, a Polícia Federal apreendeu mais de uma tonelada de cocaína em um jatinho executivo no aeroporto de Fortaleza.
Duas pessoas foram presas, um passageiro espanhol e um comandante turco. Exatos 1.304 quilos de cocaína foram localizados e apreendidos na aeronave de nacionalidade turca que decolou de Ribeirão Preto e tinha como destino Bruxelas, na Bélgica.
Passageiros e tripulação tiveram de passar pela capital cearense para os trâmites de imigração quando foram interceptados pela polícia. A droga estava acondicionada em 24 malas. Foram apreendidos a aeronave, celulares e documentos.
A outra notícia positiva veio da Secretaria da Segurança Pública de SP: mais de 150 toneladas de drogas foram retiradas de circulação no primeiro semestre deste ano só no Estado de São Paulo.
Essa é a maior quantidade de entorpecentes apreendida no primeiro semestre em 21 anos. Os seis primeiros meses deste ano registraram, pela primeira vez desde 2001, início da série, um volume superior a 100 toneladas.
A quantidade de drogas apreendidas pelas polícias Militar e Civil no primeiro semestre deste ano foi 50% superior ao volume interceptado no mesmo período de 2020 -- subiu de 99,9 toneladas para 150 toneladas.
Esses números representam a soma das quantidades de quatro indicadores: maconha, cocaína, crack e outras drogas. Em todos eles, o ano de 2021 contabilizou uma alta em relação a 2020.
A maconha foi a droga que apresentou maior volume. As polícias apreenderam 130,8 toneladas no primeiro semestre, o equivalente a 87% das 150 toneladas de entorpecentes retirados de circulação no período.
Esse número representa também um aumento de 53% em comparação com as 85,7 toneladas dessa droga interceptadas ao longo dos seis primeiros meses de 2020.
A cocaína foi a segunda droga com maior volume apreendido (14,2 toneladas, 29% a mais do que as 11 toneladas interceptadas no mesmo período de 2020). O crack contabilizou a maior alta porcentual no mesmo comparativo, de 117%. A alta verificada foi de 926,3 kg para 2 toneladas.
A variação dos volumes apreendidos de todas as outras drogas, juntas, foi de 2,1 toneladas para 2,8 toneladas, uma alta de 32%.
É consenso entre os especialistas que diferentes fatores contribuíram para essa apreensão recorde, como as novas ferramentas operacionais, sobretudo as tecnológicas. Entre as novas tecnologias que estão sendo empregadas no combate à criminalidade o destaque tem sido o uso de drones.
Os aparelhos auxiliam nas prisões e nas apreensões em locais de difícil acesso. Basta imaginarmos que durante décadas -- e ainda hoje -- muitos criminosos utilizam-se do emaranhado de vielas e dos terrenos difíceis das favelas para conseguir escapar de uma perseguição.
Com o advento dos drones, as incursões a essas comunidades melhoraram, já que o dispositivo possibilita o acompanhamento em tempo real da movimentação do criminoso. Quem está operando o equipamento vai passando as informações para o policial que está em terra, facilitando a prisão do meliante.
Outros recursos têm sido o aprimoramento de softwares utilizados para mapear a prática criminosa e o emprego de grandes operações. Para fechar, o conhecimento e a expertise do policiamento rodoviário tem sido fundamentais para esse crescimento.
Como exemplo, destacam-se as apreensões efetuadas em estradas e rodovias, como a ocorrida em fevereiro, em Araraquara, quando foram descobertos 8.560 kg de maconha acomodados dentro um caminhão utilizado para transportar ração.
Ou seja, tudo isso está por trás da alta de apreensões. Houve, de fato, uma melhora significativa no combate às drogas. Isso não significa, porém, que não há muito a ser feito.
Até porque, o recorde muito provavelmente também significa uma alta de tráfico que não é apreendido, claro. Como se trata de um mercado ilegal, é muito difícil saber, de fato, o volume real.
É preciso lembrar que o tráfico de drogas é uma atividade fundamental para o crime organizado e que, por trás dele, há um efeito cascata de ações criminosas como roubos, assaltos, sequestros e mortes.
Por isso, o seu combate deve ser encarado como prioridade pelas forças de segurança. Infelizmente, a droga é o grande sustentáculo do crime organizado, que gera dinheiro para as grandes quadrilhas.
Portanto, há que se continuar nessa batalha diária. Parabéns às polícias pelas apreensões. E que o combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado siga firme e forte, de forma articulada e com apoio da população.