Economize água ou sofra as consequências

Na hipótese de uma parcela significativa dos sorocabanos ultrapassar os limites do consumo consciente, poderá, sim, haver interferências na distribuição do -- adequadamente chamado -- precioso líquido

Por Cruzeiro do Sul

Embora o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba venha, reiteradamente, desde o início de 2021, afirmando que o sistema de água potável do município está preparado para atravessar o atual período de estiagem sem a necessidade de restrições no abastecimento da cidade, esse discurso otimista sempre termina com a mesma advertência: a população precisa fazer a sua parte. Para qualquer entendedor mediano, essa frase corresponde a um claro alerta: na hipótese de uma parcela significativa dos sorocabanos ultrapassar os limites do consumo consciente, poderá, sim, haver interferências na distribuição do -- adequadamente chamado -- precioso líquido. Entenda-se por “interferência”, inclusive, a repetição dos inconvenientes rodízios adotados há apenas um ano.

Em Sorocaba, o sinal amarelo deve permanecer constantemente ligado quando o assunto é consumo hídrico. O notório hábito local de exagerar na abertura das torneiras é registrado até mesmo nas estatísticas oficiais. Segundo um estudo feito em 2019, com base em dados da Organização das Nações Unidas (ONU), estatísticas do Instituto Trata Brasil (ITB) e informações do próprio Saae de Sorocaba, cada sorocabano apresenta um consumo médio de água 21,4% maior do que os brasileiros em geral e exatamente 70% acima do dispêndio per capita mundial. Conforme esses dados, enquanto os humanos em geral gastam aproximadamente 110 litros de água por dia, os moradores de Sorocaba precisam de 187 litros a cada 24 horas. A média diária nacional, que também é considerada elevada para os padrões mundiais, está em cerca de 154 litros de água por habitante.

Outro ponto a ser considerado é o desconhecimento do volume real de água disponível nos reservatórios de captação utilizados pelo Saae. Uma coisa é saber que o nível medido em um determinado momento equivale a tantos por cento do nível da represa, outra é calcular a quantidade em litros. O nível é, até certo ponto, fácil de conferir e usando parâmetros como o recuo do líquido observado nas margens, por exemplo. A incógnita, nesta equação, passa a ser, justamente, a quantidade absoluta de água, uma vez que o assoreamento nas bacias de represas tende a aumentar com o tempo. Aliás, ainda é preciso levar em consideração outras variáveis, como a evaporação e o desperdício do líquido dentro do próprio sistema e no trajeto entre as estações de tratamento e o consumidor.

Conforme os dados levantados na semana passada pela Reportagem do Cruzeiro do Sul junto ao Saae e à Votorantim Energia, o primeiro semestre de 2021 apresentou volume pluviométrico 53,94% menor do que o mesmo período do ano passado. Entre janeiro e junho de 2020 choveu o equivalente a 638,3 milímetros, contra apenas 344,6 milímetros em 2021. Vale destacar que, mesmo no ano passado, o índice de chuva registrado ficou 18,63% abaixo da media histórica para o primeiro semestre. Ou seja, nos últimos seis meses, choveu apenas 43,94% do volume esperado. Por conta disso, os níveis dos mananciais mantêm a tendência de redução observada desde o verão anterior. Apenas em junho, o sistema Castelinho/Ferraz caiu de 65% para 58%, enquanto Ipaneminha teve seu volume reduzido de 90% para 80%. Já a represa de Itupararanga, atualmente responsável por 85% da água que chega às torneiras dos sorocabanos, teve o seu nível reduzido de 40,55% para 36% em um mês. Conforme a empresa Votorantim Energia, gestora da Usina Hidrelétrica de Itupararanga, o nível atual é considerado abaixo do normal para o período. Além disso, lamentavelmente, as previsões para os próximos meses não são animadoras. Por conta do fenômeno climático “La Niña”, é provável que continue chovendo abaixo da média até, pelo menos, o próximo mês de setembro.

Diante desses fatos e números, o bom senso nos diz que é chegada a hora de todos acatarem as orientações da campanha de conscientização lançada pelo Saae há pouco mais de um mês. Confira algumas sugestões: feche bem as torneiras após o uso e enquanto escova os dentes ou faz a barba; evite banhos demorados; antes de lavar a louça, remova restos de comida dos pratos e das panelas, deixando-os de molho; evite lavar as calçadas e o carro com mangueira; molhe as plantas ao entardecer ou amanhecer, quando o sol é mais ameno; utilize a capacidade máxima da máquina de lavar roupas; e fique atento a possíveis vazamentos em pias, chuveiros e vasos sanitários.

Ações simples como essas -- e que deveriam ser observadas durante o ano inteiro, com ou sem chuvas -- podem fazer toda a diferença. Vale lembrar que os moradores da vizinha Itu já começam a enfrentar rodízio de água na terça-feira (6).