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Aeroclube

28 de Maio de 2019 às 00:01

Aeroclube de Sorocaba, um legado de sucesso com dias contados.

Desde que me lembro por gente, lá pelos anos de 1975 frequento Aeroclube de Sorocaba levado por meu pai, meu primeiro contato com um avião foi no biplano PP-TEZ do saudoso Alberto Bertelli que me colocou sentado no banco do piloto e fez uma promessa que quando eu fosse maior ele me levaria para voar de “ponta cabeça”, pouco tempo depois Bertelli voou com suas “próprias asas”, não pôde cumprir sua promessa, mas despertou em mim a paixão de voar e descobri porque que os pássaros cantam ... Já com meus 12 anos eu ia aos finais de semana de bicicleta, ficava horas admirando os aviões, nos finais de tarde ficava ouvindo as histórias nas rodas, famoso “papo de hangar”, quantas histórias fantásticas. Em 1985 comecei o curso de piloto, meu grande mestre e instrutor de voo Paulo Dias no teórico e Vicente Flório no prático, teve muitas outras pessoas que me inspiraram e me ajudaram, comandante Messias foi um deles, gostaria de mencionar todos, porém daria um livro, fica aqui a minha gratidão a todos.

Aeroclube de Sorocaba sempre foi como uma extensão do meu lar, passei horas ajudando, abastecia, empurrava, “dava hélice” (partida manual), ajudava mecânicos, tudo pelo simples prazer de estar por perto de aeronaves e amigos, dei aula no curso teórico por uns dois anos, fazia voo panorâmicos ou “apavorâmicos” para os mais medrosos [Risos], época de ouro onde todo fim de tarde nos reuníamos na lanchonete para tomar uma cerveja e contar “causos” e muita mentira, pilotos e pescadores têm essa “qualidade”. [Risos]

Essa época de ouro do Aeroclube, de seus sócios e amantes da aviação foram se acabando com o passar dos últimos tempos, os números de horas de voo foram diminuindo, povo da “antiga” se afastando, muitos por discordarem da maneira como diretores o gerenciavam, outros, por motivos pessoais, enfim, “safra” de novos de alunos, gente nova na direção que não deu importância à história e transformou uma instituição tão importante para a cidade e ao país em uma “simples empresa”. Aeroclube acabou virando uma “simples” escola de pilotos, não tinha mais aquela magia, o encanto que existia desde sua fundação em 1942.

Porque não lembrar das festas aviatórias, dezenas de aeronaves e pilotos do Brasil todo vinham se apresentar por puro prazer, e claro, prestigiar nossa cidade, Esquadrilha da Fumaça sempre presente, sem contar as 50 mil pessoas, sim, 50 mil sorocabanos prestigiando as festas, motivo de orgulho para a cidade.

Hoje o aeroporto parece um cemitério, tudo isso provocado por alguns fatores, um deles a má gestão de uma diretoria que ficou por 14 anos que deixou dívidas e aviões sucateados, somado ao fim da concessão de uso das áreas e hangares, concessão vencida em novembro de 2018 e não renovada pela Prefeitura, pior, o Aeroclube foi obrigado a sair por força de uma ação de reintegração de posse, a insensibilidade com a história é tão grande que não dá para mensurar, o nosso aeroporto é um dos mais movimentado do Estado, um dos maiores polos de manutenção graças ao Aeroclube que deu inicio a tudo em 5 de maio de 1942.

Hoje o Aeroclube se encontra em “fase terminal” abandonado como um velho senil e sem valor em um asilo para morrer, seus aviões antigos e históricos sucateados e jogados em um hangar sombrio, sem água, sem energia, sem renda, velados pelo choro copioso dos pilotos mais antigos que já voaram com suas “próprias asas” e por muitos como eu, que por aqui ainda estamos, Aeroclube hoje aguarda apenas o golpe de misericórdia para decretação do seu fim. [Lágrimas]

Alex Rondello