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Vinte meses

10 de Fevereiro de 2021 às 00:01

Vinte meses Crédito da foto: Reprodução / Internet

Alexandre Garcia

Nesses quase 45 anos de Brasília, cobrindo 23 escolhas de presidentes da Câmara e do Senado, não lembro ter visto uma eleição que trouxesse tanta perspectiva de mudança, incluindo peso na próxima eleição presidencial.

Os dois antecessores contribuem para que se tenha a sensação de mudança da água para o vinho, nesses primeiros dias de nova administração na Câmara e no Senado. Com a pandemia e o País à espera de soluções legislativas urgentes, Maia e Alcolumbre, nesses meses de campanha para permanecerem na presidência, só viam os próprios interesses. Pacheco e Lira mostram o oposto.

Como num toque de mágica, matérias importantes recebem um levanta-te e anda! O radicalismo de Maia é substituído pela diplomacia de Pacheco e o diálogo de Lira. Juntos, assumem compromisso com o País e exorcizam a disputa por vaidades. Sobretudo, põem em prática a harmonia entre poderes, conversam sem restrições com ministros e com o chefe do Executivo.

Levanta-se a autonomia do Banco Central que dormitava na Câmara e é tratada com urgência; as reformas administrativa e tributária são religadas; no quadragésimo-primeiro dia do ano, vai se instalar a Comissão Mista do Orçamento de 2021 -- incrível descaso movido pela sede de poder. Acerta-se com o Executivo um rol de prioridades; garantem-se mudanças legais que sejam necessárias para atender a mais gastos sociais com a pandemia.

A maioria parlamentar se reencontrou, na eleição em que os vencedores fizeram mais que o dobro de votos do segundo colocado. Na Câmara, o placar sepulta a esperança dos derrotados em 2018 de buscarem o tapetão do impeachment.

Os resultados de 1º de fevereiro de 2021 já se projetam para 2 de outubro de 2022. Percebendo o rumo dos acontecimentos, Dória convida Maia para o PSDB, mas FHC reconhece que resultado na Câmara é um adeus à ideia de evitar reeleição; Lula se apressa e indica Haddad de novo e a esquerda se divide, pois também tem Ciro e Boulos. Se a harmonia produtiva entre Legislativo e Executivo durar 20 meses, não haverá surpresa em 2022.

Alexandre Garcia é jornalista.