Vacinar é preciso, aglomerar não é preciso

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Crédito da foto: Reprodução / Internet

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Edgard Steffen

Infecção simultânea por duas variantes é

detectada no País (C. do Sul -- 05/3/2021)

Para tomar a segunda dose da Coronavac, saí de casa preparado para uma longa espera. Levei até o “Estadão” pra garantir leitura que amenizasse o tédio. Passava pouco das sete quando minha filha Patrícia veio me buscar para enfrentar a fila do drive-thru no Instituto Humberto de Campos. O IHC era meu velho conhecido porque, envolvido nos programas de suplementação alimentar, vistoriava seus barracões onde eram depositados alimentos que o Estado distribuía para os centros de saúde da 4ª Região Administrativa. Também foi minha última sede de trabalho como funcionário público municipal. Ali fui alcançado pelo ofício que dispensava meus préstimos. Alcançara a idade limite segundo a legislação brasileira. Foi aí que me senti velho. Caíra na compulsória e a senti como expulsória. Gostava do que fazia e admirava competência e seriedade com que funcionários das Vigilâncias Epidemiológica, Sanitária e da Zoonoses exerciam suas funções.

Minhas pessimistas previsões não se confirmaram. O fluxo estava bem organizado. Antes de atravessar o portão de acesso, funcionários examinavam os documentos e não permitiam entrada de quem não pertencesse ao grupo selecionado. Dentro do espaço, cones e fitas dividiam vias que levavam aos pontos da vacinação. Nova triagem conferia a condição etária do vacinando e preenchia o respectivo cartão. A triadora transpirava bom humor e satisfação. Em que pese estarmos nas primeiras horas da manhã, o sol era forte. Tendas montadas protegiam vacinas e vacinadores. Estes, eficientes e educados, confirmavam os dados do cartão. Antes de aplicar o imunizante, mostravam a seringa abastecida; após a aplicação, exibiam a seringa esvaziada. Tudo tão bem esquematizado que, em meia-hora, já estávamos em casa para o café da manhã. De parabéns a Secretaria Municipal de Saúde e as equipes envolvidas na campanha.

A idade provecta e o exercício da Medicina permitiram-me vivenciar três grandes pandemias (gripe asiática, gripe coreana e Covid19), erradicação da varíola (1970), vitória sobre a poliomielite (paralisia infantil, 1994) e o controle de brotos epidêmicos de meningite, sarampo, coqueluche (tosse comprida). Campanhas de vacinação em massa interrompiam a transmissão. Nosso País como um todo, São Paulo em particular e Sorocaba em especial tornaram-se “especialistas” em vacinar a população. Em artigo recente, comparei a Covid19 a um incêndio com muita gente em local fechado e uma única saída. Essa única saída é imunização do povo com a maior rapidez possível.

A evolução da Covid19 muito me surpreendeu e surpreende ainda. Acreditava, com ou sem vacinação, neste início de 2021 a curva de novos casos estaria em plena descendência. Aconteceu o contrário. Aumentou a incidência, mutações ampliaram a infectividade do novo coronavírus e aumentaram os casos graves na população abaixo de 60 anos.

Velha fórmula (não me recordo o autor) explicava a evolução das doenças infecciosas de transmissão direta. I = QI+V/R. A doença era produto da quantidade de germes inoculados somada à virulência dividida pela resistência. A fórmula vale tanto para o indivíduo como para a comunidade. Quanto maior o numerador e quanto menor o denominador maior a gravidade e a probabilidade da moléstia transmissível. Aplica-se à situação atual: aglomerações aumentam o valor do inóculo (o distanciamento social diminui) e as mutações aumentam a transmissibilidade e a infectividade do novo vírus. Explicam o aparecimento de casos graves em indivíduos jovens sem comorbidades. A solução é diminuir o numerador -- pelo distanciamento social, uso de máscara e limpeza das mãos -- e aumentar o denominador. A resistência se consegue pela vacinação da população.

Vacina sim! Ajuntamentos não!

Edgard Steffen é escritor e médico pediatra. E-mail: edgard.steffen@gmail.com