‘Três macacos’ no Cine Reflexão

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Hacer: paixão pelo homem errado e dramas familiares. Crédito da foto: Divulgação

Hacer: paixão pelo homem errado e dramas familiares. Crédito da foto: Divulgação

“Três macacos”, do diretor Nuri Bilge Ceylan, começa em uma noite chuvosa. Um carro é conduzido numa estrada rural por um homem de meia-idade, que luta contra as demandas do sono. Logo depois vemos um corpo estendido na estrada e entendemos que havia sido atropelado pelo motorista sonolento. O condutor de um outro carro anota o número da chapa do veículo atropelador, o que, obviamente, fará que seu proprietário venha a ser identificado.

Saberemos mais tarde que o acidente foi provocado por um político chamado Servet. Como está no meio de uma campanha eleitoral, entra em pânico frente às consequências do atropelamento em sua carreira política. Resolve então pedir ao seu motorista Eyüp que se declare o autor do acidente, argumentando que a sentença será de poucos meses de prisão. Promete que o salário de Eyüp continuará a ser pago à sua família e que receberá uma grande quantia de dinheiro quando for libertado. Eyüp concorda, confessa a autoria do acidente e cumpre nove meses de prisão.

Eyüp, sua esposa Hacer, e o jovem filho do casal moram em um apartamento simples e compõem uma família de classe média-baixa. Hacer trabalha no refeitório de uma indústria. É uma mulher de meia idade, atraente, insatisfeita com a rotina da vida familiar. E, com o marido preso, tem de lidar com um filho que anda em más companhias, que não trabalha, que é rotineiramente reprovado no exame de ingresso ao curso superior e que passa a maior parte do tempo na cama em permanente estado de depressão. As conversas entre mãe e filho não fluem, às vezes parecem que um não entende o significado das palavras do outro, como com frequência ocorre entre pais e filhos adolescentes ou jovens.

Para ajudar o filho, Hacer decide comprar o carro de que ele necessita para executar o único trabalho que o estimula, que é o de transportar estudantes. Ela recorre a Servet e lhe pede o adiantamento da importância que pagaria ao marido quando saísse da prisão. Servet, como costumam fazer os políticos, apregoa grandes virtudes morais, mas corteja a esposa de seu motorista ausente. Hacer reluta, mas os dois acabam principiando uma relação amorosa. Contudo, após algum tempo, Servet rejeita Hacer porque se dá conta que sua vida de casado poderá vir a ser arruinada pela amante apaixonada. O filho toma conhecimento da relação extraconjugal da mãe, mas nada fala ao pai. Eyüp é libertado da cadeia e passa a desconfiar da mulher.

“Três macacos” é um filme sobre relações familiares e amorosas, mas guarda também características do gênero “suspense”, porque transmite um aumento gradual de tensão pelo que sucederá ao trio.

O título do filme refere-se a três macacos sábios esculpidos em um santuário do Japão que representam o provérbio “não ouça o mal, não fale o mal e não veja o mal”. No Ocidente, contudo, a frase é muitas vezes usada para se referir àqueles que preferem fugir de problemas ao invés de resolvê-los. Este parece o significado mais apropriado àquela família de pessoas que pouco ou nada se comunicam.

Serviço

Cine Reflexão

“Três macacos”, de Nuri Bilge Ceylan

Hoje (6), às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita