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Três anos depois do maior desastre ambiental brasileiro

06 de Novembro de 2018 às 08:36

Foto: Christophe Simon / AFP

Ontem completaram três anos do maior desastre socioambiental na história do Brasil, com prejuízos pessoais e ambientais irreversíveis. De lá pra cá pouca coisa tem sido realizada na tentativa de recuperar o estrago causado pelo rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton.

O rompimento da barragem aconteceu no dia 05 de novembro de 2015 por volta das 15h30, quando um vazamento liberou cerca de 62 bilhões de litros de rejeitos de mineração. A lama foi lançada sobre o vale do córrego Santarém, dizimando o distrito de Bento Rodrigues, localizado a 36 km de Mariana (MG) e contaminando outros vilarejos e distritos localizados no vale do rio Gualaxo até chegar ao rio Doce, bacia responsável pelo abastecimento de vários municípios. No dia 22 de novembro de 2015 detectou-se que a lama chegou até o norte do estado de Espírito Santo, atingindo o Oceano Atlântico. A lama deixou um rastro de destruição em dois estados -- Minas Gerais e Espírito Santo --, atingindo 40 municípios. No total, 19 pessoas faleceram e mais de 600 famílias ficaram desabrigadas durante e após esse desastre.

Diversos profissionais da área ambiental afirmam que o estrago na bacia do rio Doce teve forte impacto ambiental no país como um todo, mas este ainda não é totalmente conhecido. Segundo o laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foram 663,2 km de recursos hídricos atingidos pela lama; 1.469 hectares de vegetação nativa foram comprometidas e áreas de preservação permanente foram destruídas; com o aumento da turbidez da água milhares de peixes morreram, assim como outros animais, algumas espécies ameaçadas de extinção. Esses são apenas alguns números do impacto, pois a totalidade desse desastre ainda não pôde ser calculada com exatidão, mas é considerada a maior catástrofe ambiental da história do país.

Este desastre ambiental começou a ser desenhado muito antes do ocorrido: alguns peritos do setor acreditam que a legislação ultrapassada, fiscalização deficitária pelos órgãos competentes e o descaso da Samarco com o meio ambiente, ao ignorar os laudos que alertavam sobre as falhas de construção e manutenção das barragens, levaram à tragédia.

O plano de recuperação ambiental, está sob responsabilidade da Fundação Renova, criada pela Samarco e pelas acionistas Vale e BHP, depois da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta. A Fundação é a responsável por implementar e gerir os programas de recuperação e reconstrução das regiões afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão. Nos primeiros anos foram feitos levantamentos dos impactos ambientais, enquanto as medidas de remediação e recuperação da região, quando já iniciadas, ainda são superficiais. De acordo com o Ibama, o plano de restauração florestal previsto pela Renova ainda não começou. A equipe deveria ter os primeiros resultados no início de 2018, mas nada foi divulgado.

Em 02 de outubro deste ano um acordo que possibilita o pagamento de indenização às vítimas do desastre foi homologado em uma audiência no Fórum de Mariana. Isto somente aconteceu após protesto da comunidade em relação ao descaso em relação à situação da população local atingida.

Diante de tudo o que houve durante e após essa tragédia, percebe-se que o Brasil precisa valorizar o meio ambiente, criar projetos mais rígidos e eficazes, fortalecendo os órgãos de responsabilidade ambiental, garantindo o monitoramento e transparência de informações, a fim de evitar que tragédias como essa se repitam, pois como diz o ditado popular “prevenir é melhor que remediar/recuperar”.

Marcela Merides Carvalho é bióloga pela UNIVAP, mestre em Ciências Ambientais pela Unesp-Sorocaba e doutoranda em Ciências Ambientais pela Unesp-Sorocaba. Helena Rocha Oliveira Mundim, é Engenheira Civil pela Unip-Goiás e aluna especial do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Unesp-Sorocaba.

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