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Terapia Ocupacional em tempos de Coronavírus

01 de Abril de 2020 às 00:01

Colegiado Docente do curso de Terapia Ocupacional da Uniso

O Departamento de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde - OMS divulgou um relatório com recomendações para diminuir o estresse causado nas populações de todo planeta pela doença Covid-19. Vale a pena conferir na internet “As dicas da OMS para não pirar de preocupação com o coronavírus”.

Como terapeutas ocupacionais e professores da Uniso gostaríamos de propor uma reflexão sobre essa pandemia/calamidade. A vida cotidiana é composta por inúmeras ocupações (brincar, estudar, cuidar da higiene pessoal, arrumar a casa, passear, etc), mas embora sejam produzidas de forma singular (cada pessoa organiza sua rotina no seu dia a dia) o fazer é sempre um ato social, pois as relações com as coisas e com o outro estará sempre presente.

Nesse momento que estamos vivendo uma situação de risco pelo contágio do vírus, nosso cotidiano tem se modificado na medida em que o isolamento tem sido a forma mais eficaz de proteção individual e coletiva. Assim, muitos de nós temos que reinventar o cotidiano, e, diante do caos, poderíamos refletir sobre como o mundo (nosso e coletivo) deveria ser transformado.

Partimos de alguns fatos que estamos vivendo sobre a importância da ciência para produzir conhecimentos e evitar a morte das pessoas. A Universidade é o lugar da pesquisa e da extensão na produção de conhecimento, e este conhecimento não pode ser descartado e abandonado. Inúmeros alunos e professores se debruçam em estudos e pesquisas para transformar a realidade de grupos que vivem em situação de vulnerabilidade, risco ou momentos de calamidade.

Outro fato que nos aproximamos é das relações humanas, ou seja, ficarmos isolados pode nos trazer inúmeras sensações de mal-estar e até de sofrimento. Embora a comunicação virtual seja uma estratégia de aproximação, ela não substitui as diversas manifestações de afeto. Mas, nesse momento, o exercício do isolamento social pode imprimir em cada um de nós a capacidade de ser solidário, de nos aproximarmos do mundo concreto, discernindo as necessidades reais da vida humana.

Temos vivenciado, muitas vezes despercebidamente, a manutenção constante da produção e do descarte dos bens de consumo de uma geração incessante de desejos, o que implica em cada um de nós. O fato é que, na nossa rotina diária, jogamos fora não somente o que achamos que não nos serve, inclusive poluindo a natureza, mas também descartamos afetos e relações.

As políticas neoliberais, com a lógica do desenvolvimento econômico em larga escala, têm produzido uma sociedade desigual, seja no contexto socioambiental, como econômico-social. Assistimos a barbáries com os povos e comunidades tradicionais, como a invasão das terras indígenas, a expulsão dos seringueiros e dos pequenos produtores rurais, dentre outras. Assim como com os grupos empobrecidos ou paupérrimos, que ainda são criticados pela inexistência de trabalho ou da dependência de um benefício social para sobreviver, como por exemplo, o bolsa família ou o benefício da prestação continuada (BPC).

Enfim, talvez possamos viver esse momento de pandemia e calamidade para podermos ocupar o outro lugar, que não seja o lugar dos desesperados, aflitos, eufóricos, mas o lugar de defensores da cidadania por uma sociedade, um país mais justo.

Escrito pelo Colegiado Docente do curso de Terapia Ocupacional da Uniso. E-mail: [email protected]