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Saudosa Expo Literária e outras ações que se foram

15 de Fevereiro de 2019 às 00:01

João Alvarenga

Em tese, Sorocaba é pródiga na realização de eventos literários; porém, tais iniciativas têm vida efêmera, pois falta persistência dos idealizadores e apoio institucional para garantir maior perenidade aos projetos de cunho literário na cidade. Assim, do mesmo modo que começam (com todo gás), simplesmente desaparecem do cenário urbano como se nunca tivessem existido.

Haja vista a saudosa Expo Literária, idealizada pela pasta de Cultura para ser a versão tropeira da Feira de Livros de Paraty, mas que teve apenas três edições, embora contasse com a toda infraestrutura necessária, como aluguel de tendas, além da presença de uma plêiade considerável de escritores locais e de figurinhas carimbadas do cenário nacional. Entre as estrelas que desfilaram pelo megaevento, os nomes do professor Pasquale Cipro Neto e do criador da Turma da Mônica, Maurício de Souza, foram amplamente noticiados na ocasião.

Apesar de todo arrojo empenhado e das boas intenções dessa proposta que brindava a população sorocabana com um acontecimento cultural digno, a última edição aconteceu em 2010, pois a crise econômica falou mais alto. Todavia, na ocasião, as autoridades da pasta aventaram a possibilidade de transformá-la em uma exposição bienal, para garantir um fôlego maior na organização e captação de recursos para mantê-la no calendário de atividades culturais da municipalidade.

No entanto, essa ideia ficou apenas no papel, pois com a troca de governo, os novos gestores da administração sepultaram a ideia, sem uma aparente justificativa; além disso, pelo que consta, não houve uma cobrança enfática da classe artística na época. E, se houve tal brado, talvez o clamor não tenha sido escutado. Algo lamentável, porque uma feira literária (por mais simples que seja) sempre se torna uma ótima vitrine que expõe os escritores locais para os leitores. Logo, a troca de experiências é um ponto positivo para ambos os lados e para a própria cultural local.

A Semana do Escritor, que acontecia em julho, nas dependências da Fundec, ilustra bem essa questão, pois era uma brilhante iniciativa que, infelizmente, deixou de ser realizada. Ao todo, foram organizadas oito edições dessa proposta, sendo que a última aconteceu há cerca de sete anos e, até hoje, os antigos participantes comentam sua ausência repentina.

Efetivamente, essa ação marcou a vida literária de Sorocaba, pois ultrapassou fronteiras, ao chegar às terras de Camões, graças à presença do poeta lusitano, Joaquim Evóreo, que levou a produção sorocabana para Lisboa. Também chamava a atenção o aspecto eclético da Semana, pois o mesmo espaço congregava autores iniciantes, de diferentes estilos literários, e senhores com décadas de estrada.

É imprescindível destacar que, no final da década de oitenta, com a chancela do Serviço de Apoio ao Comercio (Sesc), foram realizados dois importantes encontros de escritores independentes, algo que movimentou a cena literária local, tanto pelo número de escritores participantes quanto pelas atividades desenvolvidas: declamação de poemas, encenações teatrais e exposição de trabalhos artísticos.

Apesar de todas essas iniciativas terem um saldo positivo no quesito adesão dos autores e participação de público, não há uma ação de continuidade, sempre com um grande hiato de décadas, entre uma atividade e outra, algo que não ajuda a estabelecer um vínculo entre escritores e leitores. Portanto, espera-se que a recém-criada Feira de Autores e Livros de Sorocaba (Flaus) tenha vida longa e cumpra essa árdua tarefa. Na próxima quinzena, haverá uma reflexão sobre a função social da cineliteratura. Até lá!

João Alvarenga é professor de Língua Portuguesa, mestre em Comunicação e Cultura e apresenta, com Alessandra Santos, o programa Nossa Língua sem Segredos, que vai ao ar pela Cruzeiro FM (92,3 MHz), sempre às segundas-feiras, das 22h às 24h.