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Reconhecendo a depressão

22 de Maio de 2019 às 00:01

Mário Cândido de Oliveira Gomes

É absolutamente normal o aparecimento de tristeza ou melancolia em certos momentos da vida, todavia, quando tais sentimentos persistem ou dificultam o ato de viver, podem representar uma enfermidade conhecida como depressão. Aproximadamente 18 milhões de indivíduos/ano sofrem de alguma forma de depressão, afetando todos os tipos de pessoas, mas, principalmente certos grupos, como as mulheres e os adolescentes.

O primeiro sinal de depressão é uma mudança no comportamento habitual, como irritação, problemas com o sono ou apetite. Porém, os sintomas mais comuns são: sentimentos tristes ou melancólicos, perda de interesse por atividades antes prazerosas (como sexo, etc), perda de apetite e peso, dificuldade para dormir ou excesso de sono, agitação e cansaço ou indisposição, sentimento de inferioridade ou culpa, dificuldade de concentração, organização do pensamento, memória ou para tomar decisões e, finalmente, pensamento de morte ou suicídio.

Por isso, quando alguém está deprimido pode achar difícil ir ao trabalho, realizar as tarefas diárias e até mesmo sair da cama. Ou então, apresentam sentimentos de frustração, culpa e raiva em relação às pessoas amadas, que ficam magoadas ou têm dificuldades em entender sua causa. Daí a importância do apoio dos familiares, inclusive cônjuges, para o controle diário da depressão.

Os sintomas nos adolescentes são semelhantes àqueles dos adultos, mas também podem incluir comportamentos inadequados ou fracasso no desempenho escolar. A depressão pode ser genética ou adquirida. A adquirida é causada por acontecimentos da vida (divórcio, perda de entes queridos, etc) ou transtornos físicos. Atualmente a medicina acredita que os sintomas possam ser desencadeados por um desequilíbrio ou bloqueio de substâncias químicas importantes, como os neurotransmissores (serotonina, adrenalina, etc), evidenciado com a utilização de medicamentos antidepressivos que regulam estes transmissores. O álcool e as drogas ilícitas também podem colaborar para o desenvolvimento da depressão. Assim, a depressão não é causada por fraqueza da pessoa ou perda de controle, mas uma doença que precisa ser tratada, sendo que o indivíduo não tem qualquer culpa.

Existem diversos graus de transtorno depressivo, sendo o conhecido transtorno bipolar ou psicose maníaco-depressiva, quando alterna episódios maníacos (humor anormal, expansividade exagerada, etc) com períodos de intensa depressão. Qualquer que seja a causa, a maioria das pessoas tratadas começa a se sentir melhor em algumas semanas, (3 a 4 semanas), pois a depressão responde bem ao tratamento. Hoje em dia as opções de tratamento são inúmeras (medicamentos, psicoterapia, etc), porém, o objetivo principal é controlar os sintomas e tratar a doença, permitindo o retorno à vida normal.

A psicoterapia pode ser usada para que o indivíduo e a família apreendam novos comportamentos e estratégias para lidar com a depressão, enquanto a manutenção do tratamento médico pode evitar o retorno dos sintomas (recidiva ou recorrência). Existem vários medicamentos antidepressivos, desde os antigos tricíclicos e inibidores da monoaminoxidase até os atuais inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina. De modo geral, esses medicamentos são bem tolerados pela maioria das pessoas.

Infelizmente, o estigma associado aos sintomas de depressão impede que os portadores desta enfermidade procurem ajuda. Por isso, o apoio dos familiares é vital para o controle diário da doença, como não chamar a atenção para os seus desapontamentos, evitar pressionar o paciente a “encorajar-se”, compreendendo que a recuperação não é um caminho suave, existindo dias bons e ruins, mesmo com a melhora dos sintomas. Sempre lembrar que o deprimido está constantemente sob risco potencial de suicídio, devendo ser evitado o pânico; também não subestimar ou esperar a crise passar, mas manter os canais de comunicação abertos, recordando que a vida é importante e valiosa.

A família deve ficar sempre atenta, pois o deprimido tem uma visão negativa de tudo. Finalmente, não excluir a pessoa deprimida dos problemas e discussões familiares, tentando resolver os problemas em conjunto e evitando dizer: “Não faça isso, deixe que eu faço”. O deprimido não é um inútil, podendo executar todas as tarefas, porém respeitando o seu ritmo.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.