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Por que Paulo Freire?

02 de Abril de 2019 às 00:01

Catarina Hand

Paulo Freire (19211997) foi um pedagogo brasileiro, nascido em Recife e conhecido, inicialmente, por liderar uma campanha de alfabetização de adultos no Estado do Rio Grande do Norte. Por suas ações de visões democráticas foi preso durante o golpe militar de 1964 e, posteriormente, exilado por 15 anos.

Durante o exílio visitou vários países africanos, com destaque para as ex-colônias portuguesas, como Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e S. Tomé e Príncipe. Viveu no Chile, Harvard e em Genebra, onde aperfeiçoou seus estudos. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial. Tendo influenciado o movimento chamado “pedagogia crítica”, é o Patrono da Educação Brasileira. Cerca de 30 universidades, de diferentes países (Brasil, Bolívia, Bélgica, Canadá, Espanha, EUA, El Salvador, Inglaterra, Suíça, Itália e Portugal) concederam-lhe doutoramentos Honoris Causa.

Suas obras são balizadas na ideia da transformação da realidade social a partir da ação educativa. Foi fiel ao compromisso da necessidade de denúncia de uma sociedade excludente à transformação da mesma, tornando-a inclusiva, através da autonomia do ser humano, com sua evolução epistemológica, em que a educação deva formar o educando e não somente treiná-lo.

Freire afirma a importância da alteridade, onde a existência do “eu-individual” só é permitida mediante o respeito verdadeiro com o outro, onde a transgressão da ética não é tolerada, onde há rejeição a qualquer forma de discriminação, onde o “pensar certo é fazer certo”.

Pensar (e fazer) certo deve inferir-se na dimensão ecológica, pois a pessoa humana vive sobre a terra; na dimensão social, vivemos com outras pessoas; na dimensão praxeológica, toda decisão ou ação individual tem consequências e devemos nos responsabilizar por elas; dimensão cósmica, vivemos em um processo de hominização e na dimensão espiritual, somos um ponto do “todo”.

Há importante sentido humanista em sua obra, em que o respeito ao outro ultrapassa a contemporaneidade e assume uma “teia antropológica”, deixando explícito que todos os homens e mulheres que nos sucederão no tempo são nossas vítimas potenciais, portanto nossas práticas carecem de reflexão crítica e responsável e a grande tarefa do educador que pensa certo não é transferir ao aluno a inteligibilidade das coisas, mas desafiá-lo a produzir sua própria compreensão da existência humana. O pensar certo será sempre dialógico e produzirá o conhecimento coparticipativo.

Do ponto de vista do processo ensino/aprendizagem, na educação escolar, o ensinamento de Paulo Freire assume a abordagem sócio-político-cultural, uma preocupação premente nos educadores desde o final da II Guerra Mundial e que não se esvaziou até os dias atuais. O homem deve ser sujeito de sua própria educação, o fazer educativo deve promover a autonomia do indivíduo que é singular, mas, também, faz parte de um todo social. O cidadão deixa de ser alienado, relacionando-se com a realidade, através da liberdade cognitiva adquirida com a aprendizagem significativa, como deve ser um verdadeiro sujeito pensante. O desenvolvimento do conhecimento está relacionado ao processo de conscientização.

Segundo o norte-americano Michael Apple, renomado teórico educacional, Paulo Freire foi o educador de Língua Portuguesa de maior renome mundial. Foi, em nível teórico e prático, um dos maiores pedagogos de todos os tempos, suas intervenções na educação popular trouxeram “luzes” que se perpetuarão. É uma referência obrigatória quando se fala de educação. Pode-se concordar ou discordar com seus pensamentos; é, contudo, impossível ignorar a sua obra.

Catarina Hand é mestra em Educação Escolar e professora da Uniso. ([email protected])