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'Pão e tulipas' no Cine Reflexão

08 de Março de 2019 às 00:01

‘Pão e tulipas’ no Cine Reflexão Rosalba busca reconquistar em Veneza sua individualidade perdida. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti 

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“Pão e tulipas”, que o italiano Silvio Soldini dirigiu em 2000, é um filme que mistura casos de amor com toques de comédia.

Rosalba Barletta é uma dona de casa italiana de meia idade que, com o marido e os dois filhos de 16 e 18 anos, está de férias com um grupo de turistas. Involuntariamente deixada para trás pelo ônibus de turismo, decide pegar carona com uma jovem e, a seguir, com um jovem. Acaba em Veneza, que ela ainda não conhecia, e decide se hospedar em uma pousada da cidade. No dia seguinte, perde o trem que a levaria a Pescara, onde mora. Fernando, o garçom que a atende em um pequeno restaurante, oferece seu quarto de hóspedes para ela passar a segunda noite. Rosalba fará amizade com uma massagista que mora no mesmo prédio de Fernando, encontra emprego na floricultura do anarquista Fermo e começa a esboçar a construção uma nova vida. Seu marido Mimmo esbraveja contra a atitude da esposa e contrata o encanador Costantino, grande leitor de livros de mistério, para trazê-la de volta a Pescara.

Em sua passagem transitória por Veneza, Rosalba parece voltar à adolescência. Assiste emocionada a um filme romântico na TV, dorme em uma cama de solteira, compra um vestido estampado em vermelho e branco, próprio para jovens, lê livros juvenis de aventuras, como “As aventuras de Huckleberry Finn”, recomeça a tocar acordeão. Rememora o dinheiro dado por seu avô quando citava de cor as capitais dos países do mundo e, em seu trabalho na floricultura, relembra os ensinamentos do pai sobre jardinagem. A essas figuras masculinas positivas de pai e avô, juntam-se agora as de Fernando, Fermo e Constantino. Seus dois filhos têm as atitudes próprias -- muitas vezes irritantes -- da adolescência. Mimmo destoa do grupo, porque é um exemplar do chefe de família autoritário que era comumente encontrado até a década de 60.

O encanador Constantino também muda de vida em Veneza. Trabalhando a mando de Mimmo como desajeitado investigador particular para encontrar Rosalba, termina por se livrar de uma mãe dramaticamente cuidadora -- como sabem ser muitas mães italianas -- e encontra na massagista o amor que sempre esteve procurando.

Fernando é um homem culto, fala um italiano rebuscado próprio da grande literatura. É solitário e melancólico. Tem uma alma simples, uma vida passada de dissabores e uma vida presente que o estava levando a praticar o suicídio.

A atitude libertadora de Rosalba transforma sua vida e a vida de todos à sua volta. Mas uma pergunta que quem assiste “Pão e tulipas” poderia se fazer é: por que Rosalba resolve permanecer por um período de tempo em Veneza? Afirmar que ela tenta escapar de uma condição medíocre de dona de casa comandada por um marido autoritário é uma resposta apenas parcialmente correta, porque faz dela uma vítima, isentando-a de qualquer responsabilidade na construção da sua vida familiar e da sua própria existência. Essa é a discussão mais interessante gerada pelo filme.

Serviço

Cine Reflexão

“Pão e tulipas”, de Silvio Soldini

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita