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O vazio no futebol

20 de Maio de 2020 às 00:01

Marcelo Augusto Paiva Pereira

O futebol como o conhecemos surgiu na Inglaterra ao final do século XIX e, após aqui ser introduzido por Charles Müller, tornou-se o esporte preferido do brasileiro em todos os cantos do país.

Desde então clubes esportivos os mais diversos surgiram, de natureza profissional e outros amadores, distribuídos por divisões esportivas conforme o sucesso nos jogos entre eles. Estádios de futebol surgiram em muitas cidades, cada qual projetado para acolher os times de futebol e os torcedores, plateia imprescindível às festividades esportivas.

O país se encantou com aquela bola de couro que rasgava o ar e sacudia a rede do time oposto, sem defesa para o goleiro. O grito de gol, parado na garganta, soava livre e cheio de vigor em resposta à felicidade de ver o adorado ou admirado time “afundar” a rede do gol do adversário.

A pandemia da Covid-19 afastou os jogos e os torcedores dos estádios de futebol pelo mundo em geral e pelo Brasil em especial. Em Sorocaba o estádio de futebol Walter Ribeiro, conhecido por CIC, encontra-se vazio, solitário, à espera de jogos que não se realizarão e de torcedores que não comparecerão tão cedo, em razão da quarentena e dos perigos de contaminação pelo endêmico vírus.

Antes da pandemia, o clube esportivo do São Bento fazia a felicidade dos torcedores e dos habitantes de Sorocaba. As bandeiras esvoaçantes e as camisetas do time compunham um conjunto visual e sonoro que agitavam as arquibancadas e estimulavam os jogadores em campo. Nosso estádio de futebol ganhava vida e convivia com todos os participantes.

A cidade de Sorocaba se envolvia com os jogos locais do São Bento: bandeiras também se agitavam fora do estádio, nas ruas, dentro dos veículos, nas mãos de pedestres, nas fachadas e portões das casas e edifícios. Havia um clima contagiante em prol do time local que movimentava a economia do município, nas mãos dos pequenos comerciantes e “camelôs”, que compareciam para ganhar algum dinheiro...

A falta dos jogos e de torcedores em nosso estádio de futebol causa sérios gravames aos clubes esportivos, devido à perda da receita ou renda auferida com a venda de ingressos e do patrocínio de grandes empresas, compromissadas com o esporte nacional.

Os torcedores e as torcidas organizadas também perdem seu espaço urbano de manifestação, deixam de ser visíveis aos habitantes e se tornam figuras virtuais, invisíveis, limitadas às redes sociais navegáveis na internet.

Pequenos comerciantes, lojistas e outros mais são prejudicados com a paralisação porque desapareceu o público consumidor de seus produtos e serviços, assim como o poder aquisitivo de todos tem sido achatado pela ausência de trabalho e de outras atividades laborais, mesmo que informais.

Enfim, a paralisação dos jogos de futebol em Sorocaba tem causado danos à economia e ao esporte local, cujos reparos dependerão de muito esforço e de tempo para se recuperarem desse pesadelo nem um pouco virtual que a pandemia deu causa. E bola para a frente, porque contra o time da Covid-19 só a vitória nos interessa. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.