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O resgate da memória e da cultura

12 de Agosto de 2020 às 00:01

Marcelo Augusto Paiva Pereira

Chamaram-me a atenção as matérias sobre monumentos históricos de Sorocaba, publicadas à página 6 da edição de 28 de junho e de 09 de agosto deste jornal. Encontram-se em notório estado de depreciação pelo tempo, falta de manutenção e de verbas. Ensejam alguns comentários, que abaixo seguem.

São monumentos históricos porque, enquanto monumentos trazem à tona o passado e resgatam a identidade cultural do grupo social ou povo; enquanto históricos testemunham os fatos e os períodos do passado que se deseja preservar.

Os monumentos carregam as marcas do tempo e a nossa consciência de passado e presente. São referências à preservação da memória, a qual é o conjunto de experiências vividas no passado, que servem de paradigmas às condutas atuais.

A qualidade subjetiva da memória é atingida por qualquer alteração do ambiente e os monumentos históricos servem de referência para estabilizá-la. Mas, dependem de preservação para que possam coexistir às gerações atuais e futuras.

A restauração é um processo de intervenção de natureza crítica e científica que, com cautelosas alterações, atualiza e limita o uso e preserva o monumento em sua historicidade. Necessária sua releitura, que depende do contexto temporal e urbano em que se encontra, com vistas à autenticidade, que não pode acolher a introdução de elementos estranhos (pitorescos) à linguagem artística e estética do monumento, porque causará os efeitos impróprios do falso histórico, do falso estético e da falsa memória.

Monumentos tão importantes à memória e à cultura, o Palacete Scarpa, a ex-Oficina Grande Otelo, a Estação Ferroviária, o Museu Histórico Sorocabano, a estátua de Baltazar Fernandes, o busto do Visconde de Porto Seguro, a Praça do Canhão, o Relógio de Sol e o Obelisco aos Pracinhas da FEB merecem mais atenção e devem ser restaurados para evitar a perda da memória regional, estadual e nacional.

Há, também, que se reportar às fontes de cultura, quais sejam, a pintura, a escultura, a música, a dança, o teatro, a fotografia e o cinema. O município carece de maior investimento na área cultural, tanto pela iniciativa privada quanto pelo poder público, que tem encaminhado poucas verbas para a preservação da memória e da cultura.

Oportuno e conveniente investir com mais ênfase, inclusive com permanentes verbas públicas da municipalidade, que se obriga a tutelar o interesse público e o bem comum dos habitantes. Investir em cultura é prioritário e quem a promove trabalha continuamente para que a memória se protraia pelas gerações atuais e futuras.

O turismo regional deve ser estimulado, porque movimenta o comércio e as atividades pertinentes, além de difundir a história do município aos turistas (no Brasil o turismo respondeu por aproximadamente 8% do PIB em 2018 e faturou R$ 136,7 bilhões em 2019).

Preservar a cultura, os monumentos históricos e estimular o turismo, com apoio administrativo e financeiro do poder público municipal, garante empregos e efetua o resgate da memória e da cultura. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.