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O perigo das praias poluídas

23 de Janeiro de 2019 às 12:18

As praias poluídas são focos de numerosas enfermidades relacionadas à água do mar, areia, comida e bebida. A contaminação ocorre por matéria fecal (coliformes), fezes de animais e alimentos deteriorados. Por isso, é preciso muito cuidado com certas praias da baixada santista, litoral sul e norte do Estado de São Paulo.

Durante um mergulho, o impacto das ondas ou a perda de equilíbrio facilitam a ingestão de água do mar, com a possibilidade de aquisição das seguintes enfermidades: hepatite por vírus (A. B e G), salmoneloses, leptospiroses, cólera e outros vibriões. A areia da praia esconde uma infinidade de fungos e parasitas, causando o bicho geográfico, ancilostomíase (anemia dos calçaras), frieira, ptiriase versicolor, etc. Já as comidas e bebidas adquiridas e ingeridas na orla do mar são veículos de numerosas bactérias (estafilococo, salmonela, shigela, campylobacter, yersínia, Escherichia coli toxigênica, etc), provocando as conhecidas intoxicações alimentares, principalmente, por meio de lanches, coxinha, croquete, quibe, pastel, etc, sorvetes caseiros, sucos artesanais e os famosos frutos do mar (ostras, mariscos, mexilhões, etc).

As doenças de transmissão fecal-oral, isto é, eliminadas pelas fezes e ingeridas pela boca, provêm de alimentos de origem animal (aves, ovos, leite, porco, frutos do mar, etc), com erros de manipulação (subcozimento, etc), contaminação cruzada, temperaturas impróprias de conservação, falta de higiene, ausência de pasteurização, presença de moscas ou poluídos com água do mar contaminada ou água de superfície não tratada (poços, fontes, etc). Também ocorrem através de manipuladores de alimentos infectados (mãos sujas) ou até diretamente de pessoa a pessoa. O Vibrio cholerae é disseminado por meio dos frutos do mar, particularmente de mariscos não cozidos e ostras cruas, pois são nativos dos meios marinhos, principalmente das águas costeiras e mornas. A multiplicação aumenta no verão pelo maior aquecimento da água, tendo sua aquisição facilitada pela exposição intensa das pessoas durante o banho de mar. A água poluída também transmite verminoses, como a giardíase e amebíase.

As salmonelas podem ser cultivadas em 50% das galinhas existentes no comércio e 20% de clara de ovo congelada. A infecção humana acontece sempre que a temperatura de cozimento não ultrapassa 66,5ºC durante mais de doze minutos. As práticas de cozimento inadequadas são mais comuns durante o verão, particularmente em piqueniques, acampamentos ou na praia, envolvendo grandes grupos de pessoas.

As doenças de transmissão fecal-oral provocam as conhecidas gastrenterites agudas, isto é, inflamações do estômago e intestinos, que se exteriorizam através de febre, náusea, vômito, diarreia, disenteria, dor de barriga e desidratação. O que difere no quadro clínico das intoxicações alimentares é a intensidade dos sintomas (leve no estafilococo e intensa na cólera), tempo de infecção, possibilidade de cronicidade (febres tifóide e paratifóides), tipo de tratamento e complicações. Os sintomas iniciais de infecção começam de 8 a 48 horas após a ingestão do alimento contaminado ou água poluída. A febre ocorre somente em 50% dos casos e a diarreia dura de 3 a 7 dias, sendo semelhante à água de arroz na cólera e com sangue e catarro na shiguelose.

O diagnóstico definitivo exige cultura de fezes e protoparasitológico, além de exames de sangue, como na leptospirose. O controle da dor, náusea, vômito e diarreia é feito com medicação sintomática, sendo importante a hidratação com líquidos e eletrólitos (soro caseiro ou similar). Os antibióticos são reservados para os casos graves ou que exigem internação hospitalar, como na cólera, febres tifóides, etc. As crianças com diarreia devem procurar o médico se a enfermidade persistir por três dias ou nos casos intensos. Por isso, a prevenção é fundamental para os dias de lazer na praia, devendo-se evitar a ingestão de comidas oferecidas na orla do mar e bebidas artesanais, procurando as praias não poluídas e ensinando às crianças o perigo na ingestão de água do mar ou água comum de procedência duvidosa (usar somente mineral).

Ainda, proteger a pele do contato com a areia (esteiras, toalhas, etc), colaborando com a saúde pública ao impedir a frequência de animais de estimação às praias. Finalmente, não esquecer dos cuidados mais simples de higiene na manipulação dos alimentos, como água de boa procedência, fervida ou tratada com cloro, limpeza das mãos, moscas no local, etc., e conservação em locais apropriados. Com estes cuidados os dias de verão na praia serão bem aproveitados e sem o risco de uma grande decepção no retorno.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.