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O eclipse do Sol

02 de Julho de 2019 às 00:01

Paulo Sergio Bretones

Na tarde deste 2 de julho ocorrerá um eclipse total do Sol que poderá ser observado no oceano Pacífico, Chile e Argentina. Em parte da América do Sul e no Brasil o eclipse será visto como parcial. Em Sorocaba e região, apenas poderemos observar o fenômeno perto do pôr do Sol. Aqui, o eclipse começará às 16h59 quando a Lua nova começará a “tocar” o disco do Sol que estará a apenas 6 graus de altura sobre o horizonte. A Lua irá cada vez mais ocultando o disco do Sol até que, às 17h32, o Sol terá 43% de seu diâmetro e 32% de sua área cobertos pelo nosso satélite, mas já estará se pondo no horizonte. Mesmo assim, vale a pena procurar locais altos com horizonte livre para observar e tentar fotografar o fenômeno. Contudo, o eclipse deverá acabar às 18h44 quando o Sol já estará abaixo do horizonte.

Neste ano teremos ao todo cinco eclipses, sendo três do Sol e dois da Lua. Dos eclipses lunares, o de janeiro foi total, visível em todo o Brasil e haverá outro em 16 de julho, que será parcial e visível no início da noite. Embora os eclipses solares ocorram em maior número, vemos com mais frequência os lunares, pois são observados em áreas superiores à metade da Terra.

Os eclipses solares sempre foram importantes na história e previstos desde milhares de anos antes da era cristã. Os antigos chineses, por exemplo, achavam que quando ocorria um eclipse um dragão estava engolindo o Sol. A população se reunia e fazia o maior barulho possível para espantá-lo e sempre dava certo! O historiador Heródoto relata que em 584 a.C. houve um eclipse previsto pelo matemático grego Tales. O eclipse ocorreu durante uma guerra entre os medas e os lídios. Na ocasião, devido ao fenômeno, o dia escureceu e foi entendido como um aviso dos deuses, para que a guerra acabasse. Assim, interromperam a batalha e fizeram as pazes. No dia 29 de maio comemoramos os 100 anos do eclipse total do Sol observado em Sobral, no Ceará, que comprovou a teoria da relatividade de Einstein.

Os eclipses solares ocorrem quando a Lua se interpõe entre o Sol e a Terra, pelo seguinte: A Terra gira ao redor do Sol num plano. Por exemplo, supondo que o Sol esteja no centro da face superior de uma mesa, a Terra se move em torno do Sol no nível desta superfície. Ao mesmo tempo a Lua gira em torno da Terra, mas o plano de órbita lunar é inclinado um pouco mais de 5º em relação à face da mesa e geralmente a Lua passa acima ou abaixo do Sol. Mas quando a Lua cruza o plano da órbita da Terra e, além disso, o Sol, a Lua e a Terra ficam alinhados, ocorre um eclipse solar. A sombra da Lua projetada no espaço é interceptada pela Terra resultando numa faixa de até 300 km de largura. O deslocamento dessa faixa sobre a superfície terrestre define a faixa de totalidade do eclipse.

Durante o eclipse é muito perigoso observar o Sol diretamente e pode produzir queimaduras na retina, causando cegueira. É extremamente perigoso olhar para o Sol com qualquer instrumento óptico como binóculos, lunetas, telescópio ou mesmo uma máquina fotográfica. Veja o que acontece quando se queima uma folha utilizando-se uma lente para focar a luz do Sol. Não se deve usar óculos escuros, vidros esfumaçados, radiografias ou negativos de filmes revelados, pois podem não bloquear as radiações não visíveis como o infravermelho e o ultravioleta. Deve-se tomar o cuidado de observar o fenômeno com um filtro apropriado e o mais indicado seria o usado em máscara de soldador nº. 14, disponível em lojas de ferragens. Melhor ainda, seria projetar a imagem do Sol numa tela. Se for utilizado um instrumento, como uma pequena luneta ou binóculo, deve-se alinhá-lo com o Sol, sem observá-lo e colocar um anteparo com a imagem do Sol no foco. Pode-se cobrir um pequeno espelho com um papel com um orifício e projetar a imagem do Sol numa parede.

Também se pode construir uma câmara escura usando-se um tubo longo, com um furo em uma das faces e apontar essa face para o Sol. Na parte interna da face oposta será projetada uma imagem que poderá ser observada através de uma abertura lateral.

Para fotografar o eclipse com câmera digital, DSLR, fixada num tripé, em modo de foco infinito, sensibilidade de ISO 100 e um filtro de densidade neutra diante da objetiva. Na falta de filtros próprios, pode-se usar o filtro de máscaras de soldar indicado anteriormente. Para as câmeras com opções manuais, pode-se usar exposições de 1/1000 e aberturas como F/8 ou F/10, disparando-se em intervalos de três, cinco minutos ou mais. Também seria importante fazer um ensaio na véspera para procurar o melhor local e condições.

Sempre considerei muito importante divulgar estes fenômenos em palestras e cursos para professores e estudantes e também para o público em geral com artigos e entrevistas. Os eclipses nos fazem indagar sobre como são previstos e incentivam estudos sobre o céu e a natureza de modo geral.

Observar o pôr do Sol é sempre algo de extraordinária beleza. No final da tarde de 2 de julho, mesmo sendo um eclipse visível parcialmente durante o pôr do Sol, poderá ser observado em locais altos, com o horizonte do poente livre e sem nebulosidade.

A experiência da observação do fenômeno sem dúvida será um espetáculo inesquecível e com fotos lindíssimas que podem ser obtidas na ocasião.

Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar.