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O eclipse da Lua na noite de 20 para 21

15 de Janeiro de 2019 às 09:47

Na noite de 20 para 21 de janeiro, de domingo para segunda, observadores de várias partes do mundo terão a oportunidade de observar um eclipse total da Lua, visível no Pacífico, Américas, Europa e África.

Denomina-se eclipse ao obscurecimento parcial ou total de um corpo celeste pela interposição de outro. A palavra eclipse vem do grego ekleipsis, que significa abandono, desmaio, desaparecimento. É uma das raras chances de observar-se um espetáculo tão belo da natureza. Embora os eclipses solares ocorram em maior número, vemos com mais frequência os lunares, por serem observados em áreas consideravelmente superiores à metade da Terra.

Na noite de domingo, a Lua irá nascer às 19h38 em São Paulo, mas à 1h33, a Lua cheia começará a “mergulhar” na sombra da Terra. Assim, uma linha divisória surge como um entalhe no bordo lunar e penetrando cada vez mais até que às 2h41 a Lua estará toda coberta pela sombra de nosso planeta. Isso vai até às 3h43 quando começará a sair da sombra até que às 4h51min sairá por completo e estará novamente toda iluminada pelo Sol. Desta forma, o meio do eclipse ocorrerá às 3h12 quando a Lua estará a cerca de 38 graus de altura sobre o horizonte.

Os eclipses lunares ocorrem quando a Lua penetra no cone de sombra da Terra, o que só pode acontecer na fase de Lua cheia pelo seguinte: A Terra gira ao redor do Sol num plano. Por exemplo, supondo que o Sol esteja no centro da face superior de uma mesa, a Terra se move em torno do Sol no nível desta superfície. Ao mesmo tempo a Lua gira em torno da Terra, mas o plano de órbita lunar é inclinado um pouco mais de 5º em relação à face da mesa. Embora a Terra projete sempre a sua sombra não a percebemos porque geralmente a Lua passa acima ou abaixo da sombra. Assim, quando a Lua cruza o plano da órbita da Terra, ou seja, passa por um nodo, e, além disso, o Sol, a Lua e a Terra ficam alinhados, ocorre um eclipse lunar. A sombra da Terra projetada no espaço se estende em forma cônica por cerca de 1,38 milhão de quilômetros e com um diâmetro de cerca de 9 mil quilômetros na distância onde está a Lua.

Desta vez teremos outra superlua, termo cunhado pelo astrólogo Richard Nolle, que não é o nome oficial dado pela astronomia, mas um folclore dos dias atuais. Como a Lua gira ao redor da Terra numa órbita elíptica, fica mais próxima no perigeu, que pode chegar a 356.400 km e mais afastada, no apogeu, a até 406.700 km de nosso planeta. Isto leva a uma pequena variação de tamanho angular e no seu brilho. Quando a Lua cheia ocorre perto do perigeu, a Lua pode ficar até 14% maior e 30% mais brilhante do que a Lua cheia do apogeu. No dia 21 de janeiro teremos uma Lua cheia às 3h16 que passará pelo perigeu às 17h59 a uma distância de 357.344 km da Terra. A próxima superlua ocorrerá 19 de fevereiro de 2019. Não se pode perceber facilmente a diferença no tamanho da Lua que se vê no céu a olho nu, mas segurando-se uma régua ou gabarito na ponta dos dedos e esticando o braço pode-se fazer uma medida. Mantendo-se as mesmas condições e comparando-se diversas Luas cheias, pode-se notar a diferença de tamanho. Outra forma é fotografar a Lua com uma câmara digital, com lente zoom ou teleobjetiva e comparar as imagens.

A sombra da Terra tem uma parte escura, chamada umbra ou apenas sombra e uma parte cinzenta denominada penumbra. Mas é a sombra que dá o efeito de beleza ao fenômeno, pois a penumbra é mais difícil de ser percebida. Quando a Lua estiver toda imersa na sombra poderá tomar uma cor de cobre ou avermelhada. Como a luz do Sol atinge a Terra e passa pela atmosfera, os componentes da luz branca, que produzem as cores vermelha e laranja, espalham-se pelo ar cobrindo o céu com as cores do Sol no alvorecer e no crepúsculo. A refração transforma essas cores em sombra, por isso a Lua fica avermelhada, chamada por alguns de Lua de sangue.

Os eclipses lunares já foram mais importantes para a pesquisa astronômica. Forneceram a primeira prova de que a Terra é redonda, foram utilizados no estudo da alta atmosfera e da rotação do nosso planeta, no tamanho e distância do nosso satélite além de variações em seu movimento. Também podem contribuir com a História na determinação de datas que se deram em tempos remotos. Além disso, foram usados até para a determinação de longitude por serem observados em diferentes locais e no mesmo instante, mas em horários locais diferentes para cada lugar. Tais fenômenos são previstos e calculados pelos astrônomos há muito tempo.

Neste ano teremos ao todo cinco eclipses, três do Sol e dois da Lua. Destes, o eclipse lunar de janeiro será totalmente visível no Brasil e outro em 16 de julho apenas parcialmente. O eclipse do Sol de 2 de julho será visto como parcial em parte de nosso país.

Vale a pena ficar acordado e reunir a turma para observar esse raro fenômeno que é muito bonito de ser visto a olho nu. Ocorrendo de domingo para segunda, muitos estudantes e professores estarão em férias e talvez tenham tempo de observar. É importante refletir sobre tal fenômeno que chamou a atenção dos seres humanos no passado, foi estudado e hoje é previsto com o conhecimento astronômico acumulado ao longo de séculos.

A madrugada termina, antes do nascer do Sol, com os planetas Vênus e Júpiter no nascente, próximos à constelação do Escorpião, e com o Órion e as Três Marias se pondo no Oeste.

Mesmo que saiam para olhar a Lua lá pelas 3h sugiro chamar as crianças para ver, pois os eclipses estão entre os fenômenos celestes que fazem parte das experiências inesquecíveis da vida. É um lindo espetáculo cujo único esforço necessário, se o céu não estiver nublado, é o de levantar a cabeça e deixar-se maravilhar pela sua beleza.

Paulo Sergio Bretones é professor da UFSCar