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O Dia da Astronomia nas escolas

29 de Outubro de 2019 às 00:01

O Dia da Astronomia nas escolas Crédito da foto: Robyn Beck / AFP

Paulo Sergio Bretones

Mesmo sendo a mais antiga das ciências, a Astronomia não é uma disciplina obrigatória em praticamente todo o mundo. Mas já foi desde a antiguidade até décadas atrás. Atualmente está mais integrada nos currículos de Ciências, Física e Geografia. E isto é melhor pela sua importância interdisciplinar, fazendo ligações entre diversas disciplinas escolares. Mas ainda existe uma grande lacuna na prática de ensino destes conteúdos nas escolas que se deve à falta de formação de professores no que se refere a tais conteúdos e metodologias de ensino.

Nos dias de hoje, muito se tem feito na divulgação de Astronomia de muitas formas por astrônomos amadores, profissionais e interessados no mundo todo. Existem instituições, projetos, eventos e campanhas internacionais que promovem a divulgação da Astronomia das mais variadas formas. Exemplos são: como planetários, observatórios públicos, museus de ciências; Astrônomos sem Fronteiras (Astronomers without Borders); Space Week (4 a 10 de outubro); Asteroid Day (30 de junho) e o dia da Astronomia, que ocorre em alguns locais em diferentes datas cada ano. No Brasil, é comemorado em 2 de dezembro, data do aniversário de D. Pedro II, o patrono da Astronomia no Brasil.

Mesmo com todos os esforços mencionados, há uma grande dispersão de astrônomos amadores, profissionais e interessados no mundo todo que poderiam fazer um importante papel em escolas locais, mesmo que seja por um único dia no ano em determinada escola. Também são poucos os locais onde existem astrônomos profissionais, pesquisadores da área, mesmo interessados, que possam chegar às escolas. Mas existem muitos astrônomos amadores, professores e interessados que podem propor atividades nas escolas.

A proposta de um evento internacional com o nome de Dia da Astronomia na Escola visa à realização de atividades para o ensino de Astronomia num certo dia do ano em uma escola escolhida por um astrônomo profissional, amador, professor ou interessado.

Atuando como presidente da Comissão C1 (Educação em Astronomia e Desenvolvimento) da União Astronômica Internacional (IAU), tive esta ideia e enviei aos organizadores dos eventos deste ano, pela comemoração dos 100 anos da IAU, Pedro Russo e Jorge Rivero. A proposta foi aceita e estabelecemos um comitê organizador e representantes de vários países, levando em conta projetos realizados em várias regiões do mundo visando à formação de professores como: Network for Astronomy School Education (NASE), Global Hands-On Universe (GHOU), Galileo Teacher Training Programme (GTTP).

Muitas atividades podem ser feitas nas escolas como: palestras, debates, apresentação de vídeos; uso de softwares ou sites da internet, exposições de fotografias do céu, instrumentos, atividades com desenhos, construção de relógios de Sol e modelos do Sistema Solar e observações do céu em horários em que a escola permita e promova com professores, alunos, famílias e a comunidade. De dia pode-se observar o Sol por projeção ou filtros adequados e à noite, o céu a olho nu ou com telescópios da Lua (dia 12/11 é Lua cheia), planetas, estrelas, aglomerados, nebulosas etc. Pode-se promover a formação de um clube de astronomia e agendar futuros encontros e atividades. Os relatos podem ser enviados no site do evento e planejadas ações futuras para incentivar e divulgar tais esforços para que se multipliquem para promover a educação em astronomia para os anos seguintes continuamente.

A ideia inicial era que fosse no dia do equinócio, em 20 ou 21 de março, início da primavera no hemisfério norte e do outono no hemisfério sul. Contudo, dada a agenda repleta dos 100 anos da IAU, para 2019 a data será durante ou próxima da semana de 10 a 17 de novembro, pelo Trânsito de Mercúrio, que ocorrerá no dia 11 e o Dia Mundial da Ciência pela Paz e Desenvolvimento, dia 10. O evento foi anunciado pela presidente da IAU, Ewine van Dishoeck na recente AstroEDU Conference realizada no ESO Supernova, em Munique, na Alemanha, de 16 a 18 de setembro passado. Assim, no dia 11 de novembro teremos a oportunidade de observarmos o trânsito ou passagem de Mercúrio sobre o disco do Sol, visível de várias partes do mundo.

É muito perigoso observar o Sol diretamente, podendo produzir queimaduras na retina, causando cegueira. É extremamente perigoso olhar para o Sol com qualquer instrumento óptico como binóculos, lunetas, telescópio ou mesmo através de uma máquina fotográfica. Não se deve usar óculos escuros, vidros esfumaçados, radiografias ou negativos de filmes revelados, pois podem não ser suficientemente densos para bloquear as radiações como o infravermelho e o ultravioleta. Deve-se tomar o cuidado de observar o fenômeno com um filtro apropriado, como o usado em máscara de soldador, número 14, disponível em lojas de ferragens. Melhor ainda, seria projetar a imagem do Sol numa tela, utilizando uma pequena luneta ou binóculo e sem observar através dele.

De qualquer forma, podemos começar o evento do Dia da Astronomia nas Escolas neste ano e planejarmos a continuidade na data do equinócio de março, que em 2020 será dia 20 de março. É uma data importante, mesmo historicamente, pois muitas culturas costumavam iniciar o ano e para os dois hemisférios seria uma data possível no ano letivo.

Para mais informações, registros e relatos, pode-se acessar a página na internet: Astronomy Day in the Schools (www.iau-100.org/astro-day-schools). Como a página está em inglês, basta clicar com o botão da direita do mouse e depois em: “traduzir para o português”. Para mais sugestões ou dúvidas, solicito que enviem mensagens diretamente para Bethany Downer ([email protected]), coordenadora do Projeto neste ano.

Seja como for, esperamos que tais esforços possam promover ações e projetos nas escolas com a participação de astrônomos profissionais e amadores e mesmo professores interessados. A Astronomia inspira e incentiva professores e alunos a estudarem muitas áreas do conhecimento, então vamos aproveitar a ocasião!

Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar.