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‘O corte’ critica a globalização

26 de Outubro de 2018 às 11:07

‘O corte’ critica a globalização Executivo elabora plano insólito para conseguir emprego. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Bruno Davert é engenheiro e gerente de uma fábrica de papel. Com a transferência da unidade fabril para a Romênia, ele é demitido com outros 600 funcionários. Seis meses antes ele havia sido condecorado por sua lealdade e pelas suas brilhantes ideias que haviam contribuído para aumentar a produtividade da fábrica.

Davert manda currículos para muitas empresas; algumas o convocam para entrevista, outras nem isso. A indenização que havia recebido no processo de demissão vai se esgotando, corta a TV por assinatura e a Internet, vende um dos seus dois carros e, para complicar ainda mais a situação, sua relação com a esposa começa a se deteriorar.

Desesperado, depois de procurar emprego por mais de dois anos, elabora um plano sinistro: examina atentamente os currículos dos seus cinco mais bem qualificados competidores e passa a eliminá-los para reduzir a oferta de mão de obra. Seu objetivo é o de assumir o cargo de gerente de uma antiga concorrente, a Arcádia, que opera com papel reciclado; para tanto, deverá eliminar também um sexto rival, o titular do cargo.

O filme tem muitos momentos cômicos, a começar pelo plano arquitetado por Davert, mas permite a discussão de vários aspectos da contemporaneidade.

A globalização econômica, impulsionada pelo neoliberalismo que ganhou força a partir da crise econômica de 1970, incrementou a competitividade entre as empresas na busca de novos mercados para seus produtos e serviços. A concorrência acirrada levou à busca de redução de custos com o uso de recursos tecnológicos. O desenvolvimento de meios de comunicação em escala global tornou ágeis e eficazes as transações comerciais e financeiras (efetuadas por bancos, casas de câmbio) e a transferência de capital e a comercialização de ações entre empresas do mundo todo.

A redução do custo do trabalho assalariado se efetuou por meio de fusões de empresas, transferência das unidades produtivas nacionais para países de custo de mão de obra mais baixo, reformas trabalhistas de diversos tipos dentro de cada país (processo de flexibilização das leis trabalhistas como terceirização, trabalho temporário, etc.). Estas medidas acabaram por gerar perdas de direitos trabalhistas e demissões de homens e mulheres, seja porque se tornaram desnecessários, seja porque são inadequados às novas exigências tecnológicas, seja por causa dos seus salários, uma vez que é possível encontrar alguém mais jovem e, muitas vezes, mais preparado, disposto a trabalhar por menos. Esta condição aumentou a competição por empregos e afetou a própria estrutura dos empregos. Thomas Piketty, em “O capital do século 21” afirma que entre um quarto e um terço das carreiras e das tarefas realizadas hoje não existiam há trinta anos e, portanto, novas capacitações foram necessárias para a inserção do indivíduo no mercado de trabalho.

Com ironia, o filme vai mostrando a publicidade para motivar o consumo por meio outdoors, caminhões que exibem fotos enormes de mulheres nuas ou seminuas, frases que exaltam o valor do ser humano.

Serviço

Cine Reflexão

“O corte” de Costa-Gavras

Hoje às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita