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‘Não amarás’ no Cine Reflexão da Fundec

20 de Setembro de 2019 às 00:01

‘Não amarás’ no Cine Reflexão da Fundec Magda e Tomek: formas opostas de amar. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Em abril e maio de 2018 foi exibida na Fundec a série completa da televisão polonesa “Decálogo”, dirigida por Krzysztof Kieslowski. O filme de hoje e o da próxima semana são, respectivamente, as versões aumentadas em mais de 30 minutos dos episódios “Não pecarás contra a castidade” e “Não matarás” do “Decálogo”.

“Não amarás” conta uma história de amor. Tomek é um órfão de dezenove anos que vive como inquilino na casa da mãe de seu único amigo. O amigo está no exterior cumprindo serviço militar.

Tomek é tímido, não tem namorada. Ele é pouco mais do que um adolescente. A adolescência, que é o momento em que encontramos o outro sexo, é fase da vida de grande turbulência, em vários sentidos. O contato com o outro é fonte de grande curiosidade, excitação, fascínio, mas também de grande perigo. Se o primeiro encontro amoroso for acompanhado de violência, abandono, traição, pode reativar experiências infantis mais antigas e, por isso, a iniciação traumática do primeiro encontro amoroso pode provocar patologias de vários tipos.

Com uma luneta, Tomek observa Magda, a moradora do apartamento de um prédio vizinho, e se apaixona por ela. Magda é uma mulher madura, experiente, sensual. O encontro de Tomek e Magda é o encontro de formas opostas de amar.

A paixão de Tomek é ingênua, ele quer viver o amor como adolescente, convida a moça para tomar um sorvete, como se fora um namorado inexperiente. Seu amor por Magda é o de idealização; ele não a conhece profundamente e, por isso, ama tudo o que falta a ele: decisão, experiência de vida, segurança.

Mas, qual a origem do amor de Magda? Para responder a essa questão, é necessário um breve preâmbulo.

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman definiu o conceito de Amor Líquido, caracterizado por grande instabilidade e volatilidade. Na contemporaneidade, que ele chamou de sociedade de consumidores, o amor se tornou uma mercadoria como outra qualquer e o que governa o amor e a mercadoria é o princípio da substituição. Essa crença se apoia em outro princípio do nosso tempo: o bem, a felicidade, estão no próximo parceiro e aquilo que temos não tem valor com respeito ao que o novo promete. O homem e a mulher são considerados maduros quando são capazes de sustentar sua própria independência emocional do outro.

Essa visão do amor é falsa porque se fundamenta em duas mentiras: a mentira da liberdade, da independência, da autonomia, de se centrar sobre si mesmo. Essa mentira nega a necessidade inerente ao ser humano de se ligar a outro ser humano, de ter um sentido para o outro, de ser objeto do afeto do outro. A segunda mentira, ligada com a primeira, é a de que a salvação está no novo, naquilo que nos falta: no novo parceiro, na nova experiência, no novo produto.

Magda, por causa da vida afetiva que pratica, é incrédula sobre o amor; por isso salta de um parceiro a outro com a esperança de encontrar o ideal e, às vezes, sofrendo após a decepção da perda. A necessidade de mudança constante não conduz a vida afetiva de Magda para a felicidade.

Serviço

Cine Reflexão

“Não amarás”, de Krzysztof Kieslowski

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita