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Meu Jeito

09 de Novembro de 2019 às 00:01

Meu Jeito Crédito da foto: Neusa Gatto

Neusa Gatto

Pode crê, sou um gato de sorte. Tenho a casa toda pra mim. Quintal, árvores, telhado, pilhas de madeira, trecos e trecos pra fuçar. Xeretar. Isso sem falar na água sempre fresca e tigela sempre cheia de comida da boa.

O que eu amo? Me escarrapachar na rede da varanda. Dali, olhar o céu até o sono chegar. -- Ooops, diz meu servo, quando chega pro seu cochilo da tarde e... -- Opa, quase achato você aí, brohter!

Dividimos o espaço, democraticamente, deitado eu sobre sua barriga. A fazer certos barulhos...

Escuto alguém me chamar. Cicinho! É ele. Tem alguma coisa nas mãos que cheira bem. Ah, sim, sardinha, favorita! Me achego desconfiado. Olhamos um pro outro. Ele sorri. Viro as orelhas, parece um ruído ali atrás. Será o sujeitinho cinza, mirrado, que sempre me olha? Corre e some? Um dia...

Então, me volto pra ele. Agora, agachado, aponta a guloseima pra mim. Ainda ri. Dou um passo à frente. Sinto mais forte o odor da comida.

Salivo até. Mas, nada de bandeira. Volto pra onde estava. De olho na sardinha, claro.

E, então, o impasse.

Me pergunto se demoro pra demonstrar meu desejo. É capaz dele desistir. Me aproximo e enfio o nariz no quitute. Lambo, tento pegar com a boca. Salivo mais ainda. Dou um tapa, de leve, pra pegar o naco de peixe. Enfio a unha. Nada. Sinto o sabor do que ficou nas unhas. Enfim, abocanho e saio. Serelepemente, vamos dizer assim.

Levo meu almoço pro meu canto vip: a escada, fresca e sombreada. Me ajeito. A sensação de prazer me invade. Sinto o gosto tenro do alimento.

Ele, ainda parado na porta, me observa. Imóvel. Pensará o que agora? Na minha enorme felicidade... talvez...

Neusa Gatto é jornalista e produtora de vídeo