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Louvado seja quem salva vidas

28 de Novembro de 2019 às 00:01

Louvado seja quem salva vidas Crédito da foto: Getty Images North America / Ronald Martinez / AFP

Carlos Brickmann

O notável pastor anglicano John Donne escreveu num belo poema, há quase 500 anos, esta frase: “Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade”. O Talmud, milenar livro judaico em que se discute a religião, diz: “Quem salva uma vida, salva a Humanidade”.

E aqui contamos uma história sobre como pessoas hoje falecidas se arriscaram para salvar vidas. Uma história que só poderia ser narrada após a morte dos protagonistas -- o último, o rabino Henry Sobel, faleceu há dias.

Lá pelos anos 70, o advogado Idel Aronis chamou Henrique Veltman, jornalista de brilhante carreira, para uma conversa. Tinha sido montado um esquema de resgate de judeus argentinos e uruguaios, montoneros e tupamaros, presos em bases militares argentinas (e cuja vida corria riscos, pois lá as armas mandavam na lei). O esquema envolvia militares e funcionários argentinos legalistas (ou, se preciso, subornados), médicos e enfermeiras americanos, e aviões de Israel ou dos EUA, que levariam os presos resgatados para um dos dois países. Seria preciso parar no Brasil, para socorros médicos e criação de novos documentos. Pousariam em Viracopos (Campinas, SP), com a cobertura do delegado Romeu Tuma, cuja equipe controlava o aeroporto. A operação era dirigida por agentes israelenses e americanos, estes orientados pelo rabino Henry Sobel. À Veltman caberia evitar que o assunto vazasse para a imprensa, o que poria a operação a perder.

Quantos voos? Não se sabe. Henrique Veltman acompanhou dois deles. O sucesso foi absoluto: ninguém de fora ficou sabendo, nada vazou para a imprensa, nem no Brasil, nem no Exterior. Firmou-se um pacto de silêncio: a história não seria contada enquanto Henry Sobel, Idel Aronis e Romeu Tuma estivessem vivos. Com a morte do último protagonista, Veltman contou a história dos homens que arriscaram suas vidas para salvar vidas.

Celebrando a vida

A maior condecoração do Império Britânico, a Ordem da Jarreteira, antiga de quase 700 anos, tem um lema em francês arcaico: “Honi soit qui mal y pense”, “envergonhe-se aquele que pensar o mal”. A quem recriminar os heróis que salvaram vidas humanas em risco, sem se preocupar com a ideologia que tivessem, este colunista recomenda: Honi soit qui mal y pense.

Aposte no não

Pesquisas indicam que 127% dos parlamentares apoiam a prisão de réus condenados em segunda instância. Talvez -- mas é difícil acreditar que, com tantos ameaçados de processo, queiram de verdade aprovar algo que acelere a prisão dos condenados. Vão falar, exigir, gritar, mas logo se inicia o recesso e tudo esfria. A propósito, a comissão especial da Câmara que deve analisar a proposta de emenda constitucional que permite a prisão de condenados em segunda instância já tem uma semana, e só um partido, o Novo, indicou representante. Os outros partidos até agora não se deram a esse trabalho.

Ótima notícia 1

A informação é comprovada: de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o uso da capacidade industrial instalada cresceu em outubro, atingindo o maior nível desde 2014: 70%. Cresceu também a produção industrial: o indicador, 55,2, é o maior desde 2010. Isso ainda não se reflete no nível de emprego. Mas, se continuar, empregos serão criados.

Ótima notícia 2

A Klabin informou que está produzindo papelão a plena carga. É uma informação importante, porque um dos principais usos do papelão é como embalagem. Se há consumo de embalagens, isso indica que a produção em geral está crescendo. Parte das encomendas da Klabin será entregue em dezembro, porque não há capacidade ociosa para aumentar já a produção.

Péssima notícia 1

Alguns dados ajudam a entender a crise do Brasil, e porque é difícil sair dela. Na Bahia, onde se produz apenas 1% do petróleo nacional, construiu-se um monumental edifício para a sede da Petrobras em Salvador. De acordo com os dados oficiais do site O Antagonista, a Petrobras ocupa quatro andares do prédio, a Torre da Pituba, que custou R$ 2,1 bilhões. Os demais andares estão vagos. O prédio tem ainda dois anexos vazios. No complexo da Pituba, há um edifício-garagem com 2.700 vagas, o maior estacionamento de Salvador. O Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, fez a obra, que a empresa, dirigida por Sérgio Gabrielli, se obrigava a alugar.

Lupa nele

O Ministério Público do Rio iniciou nova investigação sobre as atividades do hoje senador Flávio Bolsonaro em seus tempos de deputado estadual. A indagação: terá ele empregado funcionários fantasmas em seu gabinete na Assembleia fluminense? No fundo, é uma evolução do caso Queiroz, assessor que já admitiu a prática, dizendo porém que o fez por sua conta.

Carlos Brickmann é jornalista. E-mail: [email protected]