Lições de um bom leitor (parte final)

Por

João Alvarenga

Neste artigo, apresentarei algumas estratégias para quem deseja aprimorar a prática de leitura ou precisa se preparar para os desafios de concursos e vestibulares. Antes, vale lembrar que a palavra livro tem sua origem no latim, LIBER, que significava “parte interior da casca das árvores”. Mas, há muitas especulações sobre como esse vocábulo passou a desempenhar a função que conhecemos atualmente: registrar, tipograficamente, sentimentos, emoções e conhecimentos.

Assim, é oportuno lembrar que o verbo LER, também, do latim, LEGERE, significava “colher, escolher, recolher” os frutos, com referência ao meio rural. Porém, esse conceito mudou, ao longo do tempo, a partir do substantivo leitor: quem colhe o saber, a partir das palavras impressas. Ato que equivale à expressão latina legere oculis, “colher com os olhos”.

Quanto às dicas, não há uma fórmula milagrosa que desenvolva o gosto pela leitura da noite para o dia. O caminho é o convívio com as publicações, ou seja, o enfrentamento da obra. Assim, evite forçar o ritmo, caso não esteja familiarizado ao ato de ler, pois isso será contraproducente e poderá ter um efeito contrário: desistir de tal empreitada logo nas primeiras páginas.

Desse modo, é recomendável escolher obras de curto fôlego como, por exemplo, crônicas, pois são textos de poucas páginas e variados temas. Dê preferência aos autores contemporâneos, com linguagem de fácil assimilação. Nesse contexto, o livro “Contos de aprendiz”, de autoria de Drummond, é ideal para iniciantes. Os autores Fernando Sabino, Paulo Mendes, Ruben Braga, Cecília Meireles e Mário Quintana escrevem de maneira lúdica e prazerosa.

Porém, caso tenha decidido encarar um texto mais massudo, como “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, não tenha a intenção de devorá-lo de uma só vez. Tente saborear cada palavra, cada página, ou seja, procure ler, atentamente, a fim de se apropriar da narrativa. Vale um conselho: escolha uma hora do dia, em que tenha um tempo livre. O melhor momento é o período noturno.

Assim, recolha-se ao silêncio do seu quarto, desligue o celular e pense: agora, farei uma viagem no tempo, voltarei ao século 19. Dispa-se de todo o preceito em relação ao texto que se propôs a ler, posto que se trata de uma ficção sem compromisso integral com a verossimilhança. Para não se perder no enredo, opte por ler, no mínimo, dez páginas diárias. Anote as palavras ou passagens que não assimilou.

Ao terminar, vá ao dicionário para desvendar os vocábulos e, caso seja necessário, acesse as páginas da web que analisam textos literários, a fim de obter mais informações sobre contexto em que o livro foi escrito e quais eram as intenções do autor.

A partir desses procedimentos, você perceberá que sua capacidade de entendimento dos clássicos será aprimorada; também notará que, com o tempo, o ritmo de leitura, naturalmente, tornar-se-á mais dinâmico. Se você está no ensino médio, poderá conversar com seu professor de Literatura, para esclarecer dúvidas sobre algumas passagens que não entendeu.

Para finalizar, o fichamento de livros, método antigo, é infalível, pois o leitor memoriza: nome da obra, autor do livro, gênero literário, escola literária, ano de publicação, enredo, principais personagens (protagonista, antagonista e coadjuvante), cenário, ambiente, tempo (cronológico, psicológico ou flashback), foco narrativo (primeira ou terceira pessoa), clímax e desfecho. Antes, as pessoas faziam esses apontamentos em fichas catalográficas, por isso o nome “fichamento”. Atualmente, usa-se o computador que é mais prático. Assunto da próxima quinzena: as funções da linguagem.

João Alvarenga é professor de Língua Portuguesa, mestre em Comunicação e Cultura, produz e apresenta, com Alessandra Santos, o programa Nossa língua sem Segredos, que vai ao ar pela Cruzeiro FM (92,3 MHz), às segundas-feiras, das 22h às 24h.