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Lesões do joelho no esporte

02 de Agosto de 2019 às 00:01

Tulio Pereira Cardoso

A prática cada vez mais frequente e o aumento da competitividade no esporte resultam em um número crescente de lesões nos joelhos. As estruturas mais comumente afetadas são os meniscos e ligamentos e dentre estes, o ligamento cruzado anterior (LCA) responde por pelo menos 80% das lesões.

Como reconhecer a lesão do LCA?

Durante um jogo de futebol por exemplo, ocorre uma torção do joelho, com sensação de estalo, dor intensa e em poucos minutos inchaço volumoso. A incapacidade de continuar jogando ou andando é geralmente imediata. Recomenda-se colocar bolsa de gelo sobre o joelho por 20 minutos, não pisar com o lado afetado e procurar serviço médico.

O exame clinico e de imagem, com raios X e ressonância magnética, confirma ou não o diagnóstico das lesões. Em poucos dias a dor diminui, mas o paciente experimenta a sensação de falseio e não confia no joelho que parece “sair fora”.

Como tratar?

Nem toda lesão ligamentar ou meniscal do joelho requer cirurgia, mas frequentemente nos pacientes jovens, praticantes de esporte, ela se faz necessária.

A fisioterapia com fortalecimento muscular é muito importante tanto no tratamento não cirúrgico, como no pré e pós-operatório da reconstrução ligamentar e na reparação meniscal cirúrgica.

Atualmente a cirurgia é realizada com internação de um a dois dias, com auxílio da artroscopia utilizando pequenas incisões e usando enxertos tendinosos do próprio paciente. Por sua baixa agressividade permite uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.

E o retorno ao esporte?

Lesões meniscais isoladas e pouco graves podem ser resolvidas por artroscopia com ressecção de pequena porção do menisco e retorno à prática esportiva entre duas e três semanas. Lesões mais complexas que exijam ressecções mais amplas ou sutura (costura) meniscal requerem de três a seis meses para recuperação. As lesões que comprometem o ligamento cruzado anterior exigem período de pelo menos seis meses para o retorno ao esporte após a cirurgia.

Um pouco de história?

Já em 129 d.C., o grego Galeno mencionava o que chamou de “cruciata ligamentum”. Por muitos anos foi dada pouca importância para o joelho como um todo.

Talvez a cirurgia ortopédica mais realizada seja a remoção pura e simples dos meniscos com resultados a médio prazo razoáveis, mas com geração de artrose no futuro.

Por muitos anos as lesões ligamentares eram desprezadas, e pior, tratadas com imobilização gessada. O resultado final mais comum era um joelho duro e doloroso.

No ano de 1845, o francês Bonnet de Lyon descreveu sinais sugestivos de lesão do LCA.

Trinta anos depois o grego Georges Noulis escreveu tese intitulada “Torsões de Joelho” e descreveu o teste hoje conhecido com Lachmann.

Vários cirurgiões descreveram diferentes sinais e formas de tratamento, até que no início do século 20 o cirurgião A.W. Mayo Robson de Leeds, Inglaterra, descreveu o que é considerado o primeiro reparo do ligamento cruzado.

O também inglês Ernest Hey-Groves criou em 1917 a base da cirurgia do LCA.

No início dos anos 60, Kenneth Jones dos EUA popularizou o uso do tendão patelar na reconstrução dos ligamentos do joelho.

Nos anos 80, William Clancy, Frank Noyes, Jack Hughston e James Andrews deram grande impulso à cirurgia e à reabilitação do LCA nos EUA. A partir de 1984, graças aos trabalhos do professor Henry Dejour e de seus auxiliares Pierre Chambat e Giles Walch, de Lyon na França, a reconstrução do LCA com enxerto de tendão patelar, tornou-se o padrão ouro, tanto que alguns ainda referem-se a ela como “cirurgia de Dejour”.

Com o advento da artroscopia a cirurgia tornou-se menos agressiva, mais precisa e novos métodos de fixação, como o parafuso de interferência do ortopedista japonês Masahiro Kurosaka melhoraram os resultados.

Nos anos 2000, o professor Freddie Fu de Pittsburgh nos EUA, com a colaboração dentre outros, do Dr. Mario Ferreti Filho, ex-aluno da Medicina PUC de Sorocaba, publicou inúmeros trabalhos sobre o LCA. Credito a esses trabalhos relembrar os cirurgiões de joelho sobre a embriologia e anatomia dos ligamentos, realizando consequentemente reconstruções mais anatômicas. Temos em nossa cidade vários Ortopedistas especialistas em cirurgia do joelho, muitos dos quais estagiaram ou visitaram centros médicos americanos e europeus, e nossos hospitais tem todo equipamento e condições para realização desses procedimentos.

Dr. Tulio Pereira Cardoso é Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho.