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Internet x informação: um olhar menos apocalíptico

02 de Outubro de 2018 às 08:48

Thífani Postali

Algumas pessoas, incluindo teóricos das ciências sociais, possuem uma visão negativa sobre a internet, de modo que sustentam que o novo meio de comunicação torna os indivíduos menos informados, devido à superficialidade e à forma como recebem as informações.

Todavia, devo dizer que discordo em certo ponto, pois, ainda que a internet ofereça textos distorcidos, superficiais e que provocam a alienação de uma parcela de usuários, que ainda não se ligou sobre a importância de checar fontes, a mesma rede possibilita diversos olhares sobre um mesmo assunto: seja pelo ângulo da matéria jornalística compartilhada numa rede social; pelo ângulo do amigo que nem sempre domina o assunto; e, também, do profissional, professor que põe ali as suas impressões sobre o tema com base em seus conhecimentos. Por permitir uma leitura não linear por meio dos diversos links, o usuário ainda pode buscar, no Google acadêmico e em outras ferramentas, informações científicas sobre o assunto, o que permite que o indivíduo tenha conteúdos para tirar suas próprias conclusões quando de sua vontade.

É certo que esse caminho exploratório não corresponde ao modelo de uso de todos os internautas, mas, do mesmo modo, não é possível se ter o controle efetivo sobre o interesse e a recepção alcançados em outras formas de comunicação, como na oralidade existente nas salas de aula ou, até mesmo, na comunicação multimídia oferecida pela limitada televisão. A internet, por outro lado, propicia a navegação por diversos textos e formas textuais, apresentando ao receptor um mar de ideias e possibilidades.

Pensando o discurso que diz que as pessoas estão menos informadas, não posso crer que a televisão, o cinema, o rádio e a própria escola deram conta de oferecer tamanha quantidade de olhares sobre um mesmo tema, especialmente quando observamos as questões ideológicas por trás dessas instituições dominantes.

Ainda que a internet, quando utilizada de maneira superficial, produza a alienação -- também provocada por outros meios --, ela é, no momento, a forma mais completa para se obter conteúdos em diversas formas: do simples texto linear à interação através de conteúdos hipermidiáticos.

Outro ponto a ser destacado é a existência de jovens mais críticos, mais curiosos sobre temas que até pouco tempo eram omitidos pelas grandes instituições -- e alguns ainda são. Havia, e ainda há, de certa forma, um mal-estar quando temas mais delicados são abordados, como se esses assuntos, que são parte do social, fossem exteriores à sociedade. Mas é possível perceber, nos últimos anos, jovens que se sentem mais à vontade para debater tais assuntos, como política, gênero, religião, preconceito etc.

E de onde vem essa coragem, que eu vou chamar de libertação das amarras da Caverna descrita no mito de Platão? Eu acredito e insisto que vem justamente das reflexões possibilitadas pela internet, pois as antigas instituições continuam desprezando determinados assuntos e ângulos, ou os tratando de forma taxativa ou superficial.

Posto assim, será que a internet é mais maléfica ou benéfica? Posso dizer que a resposta depende do seu uso, da disposição e do interesse do usuário, mas que, empiricamente, observo uma geração mais curiosa e crítica, mais voltada para o bom senso no lugar do senso comum. E isso é bom!

Thífani Postali é doutoranda em Multimeios pela Unicamp e mestra em Comunicação e Cultura pela Uniso; é professora da Uniso e membro dos grupos de pesquisas MidCid e Nami. Blog: www.thifanipostali.com.