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Hoje o Brasil, amanhã... Eu mudo!

24 de Agosto de 2018 às 08:17

Depois de conferir o meu pagamento descobri que acabo de fazer minha opção pelos pobres ou melhor estão fazendo por mim. Pobre é aquele sujeito que não tem nada, mas que na primeira enchente ou sinistro perde tudo. O pobre é um desafio da natureza e uma invenção humana, alguém viu cair um raio de pobreza, um terremoto de salários baixos? Um orangotango queixando-se de sua condição social ou uma arara esperando auxílio desemprego? Não. É humano. No meu caso a pobreza vem do meu avô. Ele fez voto de pobreza e elegeu a nossa família inteira, até hoje. Mas o que é o meu salário frente à imensidão do universo ou da sabedoria divina? Nada, nadinha, mesmo assim continuam me descontando o imposto de renda.

Com as eleições para Presidência e Congresso há quem acredite que o Brasil vai mudar e a pobreza diminuir. Para muitos que estão se recandidatando deu certo e ganharam o sustento com o suor do rosto... dos outros. Da minha parte espero que o Brasil mude para Paris, bem próximo de um bistrô com preços baratinhos. Pela campanha vista até agora, os candidatos não têm nenhum plano futuro para o país. Têm, no máximo, um compromisso para mais tarde. Se eu tivesse que votar seria no Caixa 2, porque é para lá que vão todos nossos recursos.

A economia do Brasil é uma confusão, baixa juros, sobe juros, sobe o câmbio, abaixa o câmbio, a bolsa sobe, a bolsa desce, se vender demais inflaciona, se não vender deflaciona. O incrível é que os economistas entendem tudo isso e ainda explicam para a gente. Entendemos bulhufas. A maioria de nós calcula com muito mais precisão pelo preço do tomate e da batata, que em determinados momentos custam mais que a onça de ouro, e é bom guardar um quilo no banco por segurança. Mesmo assim eu não troco o Brasil por nenhum outro país, até porque ninguém quer trocar comigo.

Leio que se fez justiça e o ex-deputado Paulo Salim Maluf perdeu seu mandato e foi mandado para a prisão domiciliar. A questão é: o que exatamente faria um sujeito de 86 anos, doente e aposentado senão ir para casa, nesse caso mansão, e ficar com a família? Pois é, essa foi a condenação dele. Os políticos brasileiros desafiam a lei, da gravidade, e caem para cima. Dê a um político um caminho e ele colocará um pedágio nele.

Fazer o quê? Meu pai me ensinou a respeitar os mais velhos, não roubar, não matar, não mentir e trabalhar, mas muita gente não levou isso a sério e se deu bem governando o país. Políticos não são inteligentes; são espertos, o que é completamente diferente. O candidato Lula, que anda preso em Curitiba por conta de uns compromissos, ostenta nas pesquisas 39% das intenções de voto. Essas são as manchetes para alegria de uns e desespero de outros. Por outro lado, não caberia a leitura um pouco diferente? Que tal: 61% não têm intenção de votar em Lula. Qual das duas frases teria mais impacto ou interesses para a mídia ou partidos? São muitas as dúvidas.

Há quem diga que tudo vai dar certo porque Deus é brasileiro. Sim, Deus pode ser brasileiro, mas se for esperto reside em Miami. Até agora, nós brasileiros estamos acreditando em mudanças e dias melhores. Antes se repetia pleno de esperanças:

-- Hoje o Brasil, amanhã o mundo!

Com o resultado das eleições em outubro poderemos ter que modificar isso:

-- Hoje o Brasil, amanhã... eu mudo!

O humorista é um fingidor que finge não ver desgraças e quando vê delas faz troça, faz graça e assim consegue dissimular a dor.

Zé Feliciano -- Escritor. Roteirista de TV, humor e mistério. Contista. Animador de festinhas e médico nas horas vagas.