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Furtos de fios e cabos em escolas

23 de Outubro de 2018 às 09:13

Sandro Donnini Mancini

Na última quinta-feira, dia 18 de outubro de 2018, a Câmara Municipal de Sorocaba aprovou, em primeira discussão, projeto que obriga escolas municipais de educação infantil e fundamental da cidade a instalarem sistema de alarme contra furto de cabos e fios elétricos, com imediato acionamento da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Polícia Militar. Sim, representará um custo para os cofres municipais e para as escolas, mas é algo, infelizmente necessário. Só como exemplo, listado inclusive no editorial do Cruzeiro do Sul do sábado dia 20/10, em julho, numa mesma semana, uma escola no Sorocaba Park teve sua fiação furtada duas vezes.

Estes roubos e furtos (numa definição simplista, o roubo acontece com violência e/ou ameaça e o furto não) acabam alimentando a indústria da reciclagem do cobre e do alumínio, metais típicos de que são feitos os fios condutores de eletricidade. Logicamente os sucateiros, assim como os industriais que efetivamente reciclam o material desconfiam quando fios, cabos e até bobinas sem uso chegam sem nota fiscal. Mas a ganância e a impunidade fazem com que muitos caiam na tentação do dinheiro fácil e descaracterizem o material, derretendo-o e posteriormente vendendo-o.

O cobre e o alumínio são dos dois metais mais valorizados ultimamente. Um quilo de cobre chega a ser comercializado por até dez reais na cidade de Sorocaba. Isso acaba fazendo com que seja muito mais simples retirar, a custo zero e com o mínimo de esforço, fios e cabos de instalações em funcionamento para conseguir matéria-prima, do que montar uma rede de fornecedores e pagar um preço justo pela sucata.

A indústria da reciclagem é totalmente defensável pelo bem que traz ao ambiente e à economia. É feita na sua maioria de gente séria interessada sim em ganhar dinheiro, mas honestamente. No caso dos fios é um excelente negócio, pois os metais utilizados como condutores de eletricidade são extremamente puros e a reciclagem destes praticamente não ocasiona perda de propriedades. Em resumo, não há grandes diferenças entre o reciclado e o metal virgem (proveniente do minério), o que favorece a diminuição da extração de recursos naturais esgotáveis. Talvez o único inconveniente técnico seja a retirada do plástico que geralmente recobre os fios e cabos, uma vez que a queima a céu aberto (prática infelizmente bastante comum) é expressamente proibida de tão poluente que é. Empresas especializadas possuem interessantes técnicas de retirada de separação do metal dos plásticos em fios e cabos. Nestas indústrias o plástico também pode ser reciclado e vendido.

Sorocaba, com uma forte tradição metalúrgica, mantém um intricado comércio de sucatas em todos os cantos da cidade, com mercado certo aqui e fora. Para indústrias sérias a procedência da matéria-prima é quesito fundamental, pois a utilização, ainda que indiretamente, de produto de furto ou roubo pode manchar a imagem da empresa e atrapalhar o negócio. Isso, juntamente com a ação da polícia, valoriza a matéria-prima legal e é certamente um incentivo à coleta seletiva que queremos ver todos os sorocabanos aderirem espontaneamente.

Nesses tempos em que se deseja cada vez mais energia para o país, não custa nada lembrar outro benefício da reciclagem: para se fazer uma tonelada de cobre virgem se consome em média 2.426 kWh. Já uma tonelada de cobre a partir da reciclagem não gasta mais do que 310 kWh, ou seja, uma economia de 87% de energia (no caso do alumínio essa economia é de 96%).

Os comentários feitos aqui sobre furtos e roubos de fios e cabos podem induzir uma outra pergunta: até quando teremos que ver a profusão de fios e cabos tornando a paisagem urbana feia, sendo que poderiam estar enterrados dificultando a ação de bandidos e diminuindo problemas de queda de sinal e de energia em dias de tempestade?

Sandro Donnini Mancini ([email protected]) é professor da UNESP-Sorocaba (www.sorocaba.unesp.br/professor/mancini).