Filmes da Netflix: “Riphagen” (parte 1 de 2)

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Dries Riphagen (interpretado por Jeroen van Koningsbrugge) tirou dinheiro e joias de centenas de judeus prometendo-lhes proteção e mandava-os para a morte. Crédito da foto: Divulgação

Dries Riphagen (interpretado por Jeroen van Koningsbrugge) tirou dinheiro e joias de centenas de judeus prometendo-lhes proteção e mandava-os para a morte. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti – nildo.maximo@hotmail.com

“Riphagen”, de 2016, dirigido pelo holandês Pieter Kuijpers, transcorre durante o período da Segunda Guerra Mundial, durante a vigência do nazismo na Holanda. Conta a história de Dries Riphagen que roubava judeus com a promessa de salvá-los do envio para os campos de concentração.

O filme não é bom, tem histórias de amor que nada agregam à trama principal, muitos erros históricos, mas, ajuda-nos a pensar sobre o ser humano. É o que farei a seguir com base em autores como Freud, Elisabeth Roudinesco etc., algumas vezes citados quase literalmente.

Freud concebeu a psicologia de um indivíduo como uma estrutura. “Estrutura” significa um conjunto de elementos que têm funções específicas, mas que interagem e se influenciam constantemente. A estrutura psicológica de um ser humano seria composta de três níveis que se intercomunicam: id, ego e superego

O superego é a consciência moral da personalidade e transmitido pela autoridade da família, da sociedade, dos educadores. Ele anuncia o que podemos ou não podemos fazer: proíbe incesto, crimes, etc.

O ego é o núcleo da personalidade de uma pessoa, é a parte mais consciente dessa estrutura, é o seu “eu”. É regido pelo “princípio da realidade”, que ajusta o indivíduo à realidade em que vive.

O id é a região mais impenetrável da personalidade, o desconhecido. O que a psicanálise chama de inconsciente está presente principalmente no id, mas também no ego e no superego. O inconsciente é aquela parcela da nossa estrutura psicológica que age de modo independente de nossa vontade consciente. Não temos acesso direto ao inconsciente; ele se mostra apenas em sonhos, em coisas que falamos sem querer, etc.

No inconsciente agem dois grupos de forças contrárias: as mantenedoras da vida e as incitadoras à morte. São chamadas de pulsões de vida e pulsões de morte. A maioria de nossos pensamentos e ações é o resultado da combinação desses dois grupos de forças e, portanto, cada um de nós pode, ao mesmo tempo, ser um selvagem e um civilizado. Somos seres ambivalentes, povoados do melhor e do pior, um cruzamento onde transita todo tipo de forças opostas que é preciso controlar, as pulsões. A civilização só se torna possível pelo controle da energia das pulsões destrutivas que se faz por meio da repressão, da opressão, pela orientação para atividades socialmente aceitas, como realizações intelectuais, científicas, artísticas, culturais, esportivas, etc.

Nosso “eu” é pressionado pelos desejos desconhecidos do id, pela severa repressão imposta pelo superego e pelas ameaças do mundo exterior. O ego “é uma pobre criatura que tem de servir a três senhores”.

Freud determinou a lógica do inconsciente porque anunciou o conjunto das regras que o organizam. O lado sombrio do inconsciente está presente em todos, mas com diferentes graus de tendências de liberar as pulsões de vida e morte. A história de vida, o ambiente familiar, natural e social, o corpo biológico de cada um determinam aquelas tendências. É isto que nos faz tão diferentes uns dos outros. Por isso, enquanto muitos seres humanos são capazes de ter sentimentos de simpatia, ternura ou piedade pelos que sofrem, outros são capazes de cometer as maiores atrocidades, sem qualquer remorso.

Conclui na próxima semana.