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Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 8 de 9)

27 de Novembro de 2020 às 00:01

Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 8 de 9) A sede da Amazon em Seattle. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Harari afirma que, há várias gerações, o mundo tem sido governado pelo que chamamos de “ordem liberal global”, segundo a qual todos os humanos compartilham alguns valores e interesses essenciais e nenhum grupo humano é inerentemente superior a outros. Embora a ordem liberal global ainda tenha muitos problemas -- como a desigualdade econômica entre os hemisférios norte e sul, entre os países e dentro dos países --, ela tornou o mundo do início do século 21 mais próspero, saudável e pacífico do que jamais foi. Hoje pessoas morrem de fome no mundo por incompetência política e não por falta de soluções tecnológicas para erradicá-la. O excesso de comida e o açúcar são agora mais letais.

Como vimos nos artigos anteriores, as grandes questões globais não podam ser enfrentadas isoladamente por qualquer país. Contudo, muitos estão perdendo a fé na ordem liberal, ressuscitando ideias nacionalistas que pareciam definitivamente enterradas na História. São ideias que privilegiam um grupo humano em relação a todos os outros. Alegam que todas as nações enfrentam hoje os mesmos inimigos que estão ameaçando destruir suas tradições e identidades: o globalismo, o multiculturalismo etc. Para substituí-la, sugerem uma “Internacional Nacionalista” pacífica, extremista de direita. Será um mundo sem imigração, sem multiculturalismo, mas com relações internacionais pacíficas e comércio preferencial com países ideologicamente alinhados. Para proteger seus valores, recomenda aos países simpatizantes da doutrina construir muros, erigir cercas e desacelerar a movimentação de pessoas, mercadorias, dinheiro e ideias. Um mundo de fortalezas muradas, porém amigáveis.

Harari -- que, diga-se, nada tem de esquerdista -- afirma que a confiança entre países foi corroída nos últimos quatro anos e discursos ideológicos de ódio se acentuaram, porque as atitudes do líder de um país como os Estados Unidos afetam os políticos de outros países. Steve Bannon, que foi assistente e estrategista-chefe do governo Trump até 2017, é o criador do “Movimento”, que a revista Time acusa de racista, sexista, xenofóbico e antissemita (atualmente, Bannon está sendo acusado pela Justiça dos Estados Unidos de ter se apossado de fundos de campanha para construir um muro com o México. Responde processo em liberdade, depois de pagar 5 milhões de dólares de fiança).

Esse tipo de Nacionalismo nada tem a ver com o movimento do Nacionalismo na Arte, expressão de sentimento nacional que legou ao mundo grandes obras no final do século 19 e na primeira metade do século 20. Nacionalismo e sentimento nacional são coisas muito diferentes. O Nacionalismo como doutrina política é entendido como egoísmo nacional, ódio, agressividade e espírito bélico às outras nações, principalmente às de ideologias políticas diferentes. O sentimento nacional, ao contrário, é entendido como dedicação à própria pátria, coexistindo com o amor às outras pessoas da sua nação e a tudo o que ela contém. Não está em oposição à solidariedade universal. Ficar enrolado em bandeiras nacionais berrando slogans de ódio contra compatriotas que pensam diferente não é patriotismo, é patriotada, é o mau uso do patriotismo.

Concluirei na próxima semana

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec