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Ficção científica no cinema (9)

15 de Fevereiro de 2019 às 00:01

Ficção científica no cinema (9) 2001: Inteligência incompreensível aos humanos faz a humanidade renascer. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti

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Na aurora da humanidade, homens primitivos, ou hominídeos, convivem com animais que lhes servem de alimento e com outros que os atacam. Ocorre então a aparição de um misterioso monólito negro. Logo depois, um dos hominídeos descobre que um osso de animal pode se tornar uma arma de defesa e de ataque. Nas palavras do diretor, o monólito nada tem de místico, é um Deus definido cientificamente como representante de seres de pura energia e espírito, de potencialidades ilimitadas e de inteligência inatingível pelos humanos.

O filme salta para alguns milhões de anos à frente. Agora o monólito reapareceu na Lua e sua radiação aponta para Júpiter. Uma nave espacial com dois astronautas a bordo é enviada ao planeta, supervisionada pelo computador HAL-9000. HAL comete um engano ao detectar que uma peça da nave está danificada e, por leitura labial, descobre que os astronautas querem desativá-lo. Arruma então um modo de deixá-los no espaço. Contudo, um deles, Dave, consegue reentrar, desativa HAL e assume a supervisão da missão, chegando ao seu destino, para além de Júpiter. Lá ele envelhece rapidamente e, em seu lugar, nasce um novo homem.

Em 1968, quando “2001” foi dirigido, não existiam internet, calculadoras digitais, microcomputadores, fitas de vídeo VHS, CD e DVD e o homem ainda não havia pousado na Lua. Em um momento em que ciência e tecnologia estavam num estágio de desenvolvimento muito distante do atual, a passagem acima já continha um alerta sobre o risco da dominação do homem pelo computador (lembremos que HAL tem semelhança fonética com hell, inferno em inglês, e que as letras que se seguem a H, A e L no abecedário compõe a palavra IBM). Nos dias atuais, a passagem adquire um significado metafórico que contém uma mensagem urgente: um novo homem poderá surgir se tivermos a coragem de nos livrar da dominação da tecnologia sobre nosso destino. O monólito parece ser responsável por induzir o computador ao erro e fazer que apenas o homem, desacompanhado da máquina, chegue ao seu destino para renascer.

O pintor sorocabano Pedro Lopes identificou a casa em que a cápsula espacial pousa, como sendo de estilo posterior a Luiz XIV, talvez Luiz XV ou XVI, (fim do Barroco, início do Rococó). Trata-se, portanto, de um retorno a uma época anterior ao Iluminismo da segunda metade do século 18. O motivo do retorno talvez esteja no fato de que, na sua obstinação de universalizar a razão e o conhecimento científico, o Iluminismo, acabou levando a humanidade a invalidar que qualquer outro discurso que não fosse apoiado em bases científicas. Os espetaculares feitos pela ciência justificam essa admiração, mas acabou por determinar o fim do caráter imaginário das interpretações do mundo. Assim, embora se achem livres, as pessoas se tornaram totalitariamente submetidas a objetos e são impulsionadas a buscar a sempre adiada felicidade no próximo bem material ou parceiro afetivo.

A ameaça tecnológica da atualidade é produto legítimo do Iluminismo.

Serviço

Cine Reflexão

Trechos de “2001, uma odisseia no espaço”, de Stanley Kubrick

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita