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Ficção Científica no Cinema (3)

04 de Janeiro de 2019 às 06:30

Ficção Científica no Cinema (3) O filósofo e historiador Yuval Noah Harari alerta sobre a realidade da ameaça tecnológica. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Na semana passada, escrevi que estudiosos de diversos ramos das ciências mostram preocupações com respeito às aplicações das novas descobertas científicas. Por outro lado, outros afirmam, com razão, que em várias ocasiões houve resistência injustificada ao emprego de novas tecnologias. Mary Shoffner e outros, no artigo “Paradigms restrained”, citam vários depoimentos dos séculos 18 ao 20 referentes à resistência ao progresso no ensino. Por exemplo, os professores federais dos Estados Unidos afirmaram em 1950: “As canetas esferográficas serão a ruína da educação em nosso país. Os alunos usam esses dispositivos e depois os jogam fora. Os valores americanos da economia e da frugalidade estão sendo descartados. Os negócios e os bancos nunca permitirão luxos tão caros.”

Dentre os pensadores que alertam sobre o que chama de “ameaça tecnológica”, está o historiador e filósofo israelense Yuval Noah Harari, um dos pensadores mais lúcidos do século 21, autor dos livros “Sapiens”, “Homo Deus” e “21 lições para o século 21”. Descreveremos a seguir alguns cenários futuros que ele aponta, em seus livros e conferências, como possíveis de serem realizados até 2050.

Harari concorda que, no passado, o medo da perda do emprego com a automação de processos produtivos não foi justificado. Por exemplo, a expulsão das pessoas que trabalhavam no campo para fora do mercado de trabalho por causa da revolução industrial do século 19 criou uma nova classe, a do proletariado urbano. Contudo, diz ele, as coisas no século 21 serão diferentes.

Harari escreve que, durante quatro bilhões de anos, todas as formas de vida na Terra foram limitadas ao mundo orgânico: humanos, micróbios, berinjelas estão sujeitos às leis da bioquímica orgânica e regidas pela seleção natural. A vida orgânica foi se adaptando às condições únicas do planeta. No entanto, atualmente estamos na fronteira de poder substituir a seleção natural pela inteligência artificial e permitir que a vida rompa os limites do mundo orgânico para dentro do mundo inorgânico.

Os seres humanos têm duas habilidades: físicas e cognitivas. E não se conhece uma terceira. As cognitivas são relativas a processos mentais de percepção, memória, raciocínio, juízo. Nas revoluções anteriores, as máquinas substituíam as habilidades físicas dos humanos e estes se mudavam de uma para outra atividade. Atualmente as máquinas de inteligência artificial competem e superam os humanos em habilidades cognitivas. Com isso, uma nova revolução tecnológica criará uma nova classe de massas: a classe dos bilhões de inúteis. São pessoas que não terão utilidade econômica porque serão superadas pela inteligência artificial. Como poder econômico e político andam juntos, essa classe de economicamente inúteis perderá também o poder político. A maioria das questões econômicas, políticas e sociais girará em torno dessa classe de bilhões de seres humanos, da mesma forma que grande parte da história dos séculos 19 e 20 girou em torno da classe dos trabalhadores.

Continua na próxima semana